sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Me falta assunto,

mas à arte não.

XVIII

Dormes... Mas que sussurro a umedecida
Terra desperta? Que rumor enleva
As estrelas, que no alto a Noite leva
Presas, luzindo, à túnica estendida?

São meus versos! Palpita a minha vida
Neles, falenas que a saudade eleva
De meu seio, e que vão, rompendo a treva,
Encher teus sonhos, pomba adormecida!

Dormes, com os seios nus, no travesseiro
Solto o cabelo negro... e ei-los, correndo,
Doudejantes, sutis, teu corpo inteiro

Beijam-te a boca tépida e macia,
Sobem, descem, teu hálito sorvendo
Por que surge tão cedo a luz do dia?!

Olavo Bilac



e para mim (que parei de fumar há 40 dias) e
para os outros:

O cigarro

Paixão, como o cigarro, logo inflama;
É no calor da chama que eu me amarro;
O primeiro pigarro cria o drama:
Cinzas derrama ao peito meu, de barro.

Se não resta do escarro uma só grama,
Mas resta, à cama, o cheiro, à boca, o sarro,
A dor que agarro, vício de quem ama,
Clama pelo sabor de outro cigarro.

Reacesa a paixão, volta a tonteira.
Primeira ela se faz, não traz indício
Do que causou à mente malefício.

O gosto da tragada derradeira
Alucina meu ser de tal maneira
Que, ao invés de curar, aumenta o vício.

Bernardo Trancoso

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