segunda-feira, 29 de junho de 2009

Fecho um ciclo de sete anos enfim

Hoje tomei uma atitude que já há anos desejava tomar: exonerei-me do cargo de professor em Contagem. Por enquanto vou segurar as pontas com a escola da tarde em BH. Não estou querendo tecer muitas conjecturas sobre o futuro. Com o tempo vago penso em voltar a pintar. Também quero estudar para algum concurso que valha mais a pena, algum órgão que pague melhor. O que não dava mais era para aguentar o ultraje da prefeita para com a gente. Lá na hora, no balcão do protocolo, onde entrei com o pedido de exoneração, havia outros funcionários indignados. A profissão de professor não oferece muitas perspectivas, mas trabalhar em Contagem oferece menos ainda. Eu não sei aonde tudo isso vai parar, mas não importa. Volto a fazer arte, volto a estudar, passo em outro concurso, sei lá...
Como hoje é São Pedro, faço uma metáfora para mim mesmo de que abro uma porta. Vamos ver para onde ela dá.
O diabo vai ser terminar de pagar o carro.

sábado, 27 de junho de 2009

Depois dos treze, impossíveis.
















Bilitis e as amigas, que hoje só são possíveis até ali por volta dos treze anos, como vejo em minhas alunas. Fosse outrora, seriam núbeis: andam abraçadas ou de mãos dadas entre cochichos e risinhos. Às vezes, quando se encontram, entre uma aula e outra, se abraçam apertado e gritam aquele grito fino, próprio das mulheres, a plenos pulmões, desvairadas. Então caem na gargalhada e se despedem. Eu acho tudo isso maravilhoso.
Depois, os diabinhos do medo e da inveja já invadem e reinam no coração das mulheres.
Uma pena.

O jogo de Ganizes

Como o amássemos ambas, jogamo-lo em ganizes. E foi uma partida memorável. Muitas jovens a ela assistiram.

Minha rival começou pelo lance dos Kyklopes, e eu, pelo de Solon. Ela jogou o Kallibolos, e eu, sentindo-me perdida, supliquei à deusa.

Joguei então o Epiphenon, e ela, o terrível lance de Khios. Eu, o Antiteukhos, e ela, o Trokhias, e eu, o de Afrodite, que ganhou o amante disputado.

Mas, ao vê-la empalidecer, abracei-a pelo pescoço e sussurrei-lhe ao ouvido, para que só ela me ouvisse: "Não chores, minha amiga, deixaremos que ele escolha entre nós".

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Sobre o Jackson

Sobre o Michael Jackson o que me vem primeiro é a deformação. Depois os escândalos, as quantias milionárias. Por fim, os hits dos 80, que curti um pouco, embora nunca tenha sido fã, e as baladas dos 70 que embalaram deliciosas e saudosas horas dançantes: meus primeiros ardores de amor.

sábado, 20 de junho de 2009

O manto púrpura de Eros

Desde já aviso que a postagem só vai interessar aos helenistas ou assemelhados.

] ἔλθοντ' ἐξ ὀρανω πορφυρίαν περθέμενον χλάμυν [

Um fragmento de Safo que traz toda a complexidade da poetisa. A palavra περθέμενον, seria, a princípio, o particípio presente do verbo πέρθω ou περθώ no acusativo masculino singular e que se traduz por destruir e é aplicado, particularmente, em cidades. Destruir ou saquear uma cidade. É uma variante de πορθέω, que se pode traduzir, também, por tomar uma cidade após um cerco. A forma usual do verbo deveria ser περθόμενον, mas o eólico, o dialeto em que a poeta escrevia, frequentemente trocava as vogais, o que explicaria a presença do ε no lugar do o. No entanto, περθέμενον é traduzida pelos helenistas como envolta, envolvida. A tradução da frase toda é esta:

vindo do céu envolto em manto púrpura

O que nos leva ao verbo περιτίθημι, por ao redor, no caso, envolver. Sendo, de fato, uma flexão desse verbo ( e não de περθώ ), περθέμενον, ainda o mesmo particípio, portanto com valor e comportamento de um nome, já traz uma contração maior dos elementos da palavra, no caso, do infinitivo do verbo, onde podemos perceber a supressão do ι final do prefixo περι (que significa, no geral, ao redor, como no português perímetro) e o τι inicial de τίθημι, palavra fundamental e que se traduz por colocar. Verificamos, também, a troca da vogal longa η pela breve ε. Tudo isso é bastante comum no eólico, que se falava em toda a região mais ao norte da Hélade e que os poetas lésbicos ajudaram a fixar.

A complexidade sáfica, a que me referi anteriormente, vem do eterno jogo de palavras. Ora, περθώ também é utilizada, na poesia, como destruir ou matar de amor. Quem mata de amor é Eros, como no Hipólito de Eurípedes:

"Debalde a Grécia, ao pé de Alfeu, ou na ara do loiro Apolo Pítio, vítimas acumula; se não honrarmos a Amor, dos homens senhor altivo, filho da deusa do mar nascida, que tem a chave dos doces tálamos, mas que devasta com triste ruína os que acomete."
ἄλλως ἄλλως παρά τ' Ἀλφεῶι
Φοίβου τ' ἐπὶ Πυθίοις τεράμνοις
βούταν φόνον Ἑλλὰς ἀέξει,
Ἔρωτα δέ, τὸν τύραννον ἀνδρῶν,
τὸν τᾶς Ἀφροδίτας
φιλτάτων θαλάμων κληιδοῦχον, οὐ σεβίζομεν,
πέρθοντα καὶ διὰ πάσας ἱέντα συμφορᾶς
θνατοὺς ὅταν ἔλθηι.
É Eros também que desce do céu envolto em um manto púrpura. A púrpura, corante extraído de moluscos do mesmo nome, era caríssimo e, no império romano, sinônimo das vestes dos césares.

'Destruindo o manto púrpura' não é uma opção possível, mas que Safo faz aí um jogo de palavras não duvidaria.

E há, ainda, o outro jogo, fonético, lindo: πορφυρίαν περθέμενον χλάμυν
porfurían perthémenon chlámun.

domingo, 14 de junho de 2009

Quantos serão picaretas?










































Estes aí são os nossos 81 senadores e senadoras da república. Observem (clique na imagem para ampliar) que Arthur Virgílio-PSDB, Demóstenes Torres-DEM, Eduardo Azeredo-PSDB, Efraim Morais-DEM, Flexa Ribeiro-PSDB, Heráclito Fortes-DEM, José Agripino Maia-DEM, Mão Santa-PMDB, Marco Maciel-DEM e Tasso Jereissati-PSDB têm os mandatos encerrados em 2011. Espero que Deus exista e os impeça à reeleição inspirando o povo a não atirar no próprio pé. Infelizmente, Álvaro Dias-PSDB, Eliseu Resende-DEM, José Sarney-PMDB, Kátia Abreu-DEM e Marconi Perillo-PSDB só terminarão o mandato em 2015; Temos que aguentá-los, portanto, por mais um tempo. Agora, os primeiros relacionados, esses, a gente tem de mandar para casa, não é mesmo?
O melhor era mandar todos para casa e acabar com esse senado de merda que só funciona mesmo é para perpetuar o coronelismo e propiciar à elite a manipulação (sempre negativa, sem propostas e naquela do quanto pior melhor) de uma parte importante no jogo do poder da república. É por isso que estados com modesta expressão como o Piauí influenciam de maneira, às vezes , significativa nos rumos da nação quando elegem, ao mesmo tempo, duas consciências tão atrasadas, perniciosas, reacionárias e negativas quanto os senadores Heráclito Fortes e Mão Santa. Já que ainda temos que ter um senado, espero que nas próximas eleições possamos renová-lo o suficiente (e também a câmara) para podermos sonhar com uma república unicameral por meio da tão sonhada reforma política. Quem sabe...
É triste, nas últimas eleições, termos ainda eleito seis senadores pelo PFL (atual DEM), o partido que sustentou a ditadura na Brasil. Um deles aqui em Minas, Eliseu Resende, o que não me espanta já que é um estado decididamente conservador, tendo em vista a popularidade do governo Aécio. Figuras como Álvaro Dias é outro presente de grego, desta feita dos paranaenses.
Há outros maus senadores que aparecem menos e há os bons também. Gosto da Ideli Salvatti, do Suplicy, do Tião Viana, do Paulo Paim, mas preferia mesmo é que não existisse o senado.

sábado, 13 de junho de 2009

Fidel comenta discurso de Obama

Obama, no Cairo:

''Foi o Islã, em lugares como a Universidade de Al-Azhar, que transportou a tocha do aprendizado durante muitos séculos e preparou o caminho para o Renascimento e o Iluminismo na Europa.''
''... Qualquer ordem mundial que eleve uma nação ou grupo acima das demais inevitavelmente falhará.''
''... Nós rejeitamos a mesma coisa que as pessoas de todas as religiões: o assassinato de homens, mulheres e crianças inocentes''.
''Os estreitos laços dos EUA com Israel são bem conhecidos. Este vínculo é inquebrantável''.
''Por outro lado, também é inegável que o povo palestino, muçulmanos e cristãos, também sofreu na luta por uma pátria. Por mais de sessenta anos, sofreu a dor do deslocamento''.
''Muitos esperam em campos de refugiados, na Cisjordânia, Gaza e de terras vizinhas, por uma vida de paz e segurança que nunca tiveram.''
''... Não deve haver qualquer dúvida: a situação do povo palestino é intolerável. Os EUA não vão dar as costas às legítimas aspirações palestinas à dignidade, oportunidade e um Estado próprio. ''


Fidel, sobre o discurso de Obama:

A maior dificuldade do atual presidente é que os princípios que ele prega estão em contradição com a política seguida pela superpotência americana há quase sete décadas, desde que cessaram os últimos combates da 2ª Guerra Mundial, em agosto de 1945. Faço abstração neste momento das políticas expansionistas e agressivas implementadas face aos povos da América Latina e especialmente a Cuba quando os EUA ainda estavam longe de serem a mais poderosa nação do mundo.

Quando se analisa as guerras promovidas, apoiadas ou realizadas pelo EUA na China, Coreia, Vietnã, Laos, Camboja, entre os milhares que ali morreram muitos eram crianças, mulheres e anciãos.
Os EUA nunca se opuseram à conquista de territórios árabes por Israel, nem protestaram contra os métodos terroristas empregados contra os palestinos. Pelo contrário, criaram ali uma potência nuclear, das mais avançadas do mundo, em pleno coração do território árabe e muçulmano, fazendo do Oriente Médio um dos pontos mais perigosos do planeta.

E Fidel encerra:

Costumo observar com interesse as cerimónias históricas, políticas e religiosas.
O que ocorreu na Universidade de Al-Azhar parecia um quadro irreal. Mesmo o papa Bento XVI teria usado frases mais ecumênicas que Obama. Imaginei por um segundo o piedoso crente muçulmano, católico, cristão ou judeu, ou qualquer outra religião,, a ouvir o presidente no grande salão da Universidade de Al-Azhar. Em algum momento ele não saberia se estava em uma catedral católica, um templo cristão, uma mesquita ou uma sinagoga.
Obama partiu cedo para a Alemanha. Durante três dias visitou pontos de significado político. Participou e falou em todas as celebrações. Visitou museus e reuniu-se com a família, jantou em restaurantes famosos. Tem uma capacidade de trabalho impressionante. Vai levar algum tempo antes de se ver um caso igual.


Extraído do Vermelho .

Ps. Para aumentar e diminuir o texto tecle Ctrl + e Ctrl - juntas.


sexta-feira, 12 de junho de 2009

Pausa poética para o dia dos namorados






















Pedindo licença a Mnasadika

O Juramento

"Quando a água do rio atingir os cumes
cobertos de neve. Quando o trigo e a cevada
forem semeados nos sulcos moventes do mar;

Quando os pinheiros nascerem dos lagos
e os nenúfares dos rochedos. Quando o sol
escurecer e a luz despencar na relva;

Buscarei outra mulher e te esquecerei,
Bilitis, alma de minha vida, pulsação do
peito meu."

Foi assim que ele falou. Que importa o
resto do mundo? Onde estás ventura insen-
sata? Quem à minha te poderá comparar?

43 -- LE SERMENT

"Lorsque l'eau des fleuves remontera
jusqu'aux sommets couverts de neiges;
lorsqu'on semera l'orge et le ble dans
les sillons mouvants de la mer;

"Lorsque les pins naitront des lacs et les
nenufars des rochers, lorsque le soleil
deviendra noir, lorsque la lune tombera sur
l'herbe.

"Alors, mais alors seulement, je prendrai
une autre femme, et je t'oublierai, Bilitis,
ame de ma vie, coeur de mon coeur."

Il me l'a dit, il me l'a dit! Que m'importe
le reste du monde! Ou es-tu, bonheur insense
qui te compares a mon bonheur!
(Pierre Louys, Les Chansons de Bilitis)

quinta-feira, 11 de junho de 2009

A Associação Brasileira de Imprensa e questão do blog da Petrobrás

Há algum tempo escrevi uma postagem onde reduzia os jornalistas e a imprensa à pior escória da atual sociedade brasileira. Sem quase excessões. Bem, tenho que proceder à "mea culpa" dada a carta enviada ao blog da Petrobrás pelo presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), Maurício Azêdo, cujo azedume só é destinado ao PIG (Partido da Imprensa Golpiesta). Notável e sintomática. Nem só de caviar vivem os nossos jornalistas.

“A ABI considera legítima a decisão da Petrobras de criar um blog para divulgação das informações que presta à imprensa e especialmente aos veículos impressos, uma vez que as questões relativas ao seu funcionamento e aos seus atos de gestão interessam ao conjunto da sociedade, que não pode ficar exposta ao risco de filtragem das informações típica e inseparável do processo de edição jornalística. A empresa tem o direito de se acautelar, através das informações que difunde no blog, contra as distorções em que os meios de comunicação têm incorrido, como a própria ABI registrou em matéria publicada da edição de 31 de maio de um dos jornais que agora se insurgem contra o blog da empresa.

A criação do blog constituiu-se em instrumento de autodefesa da empresa, que se encontra sob uma barragem de fogo crítico disparado por vários veículos impressos. Não se poderá alegar que é assegurado à empresa o direito de resposta, uma vez que quando este for exercido a informação nociva já terá produzido afeitos adversos. Ademais, é conhecido principalmente dos jornalistas o tratamento que a imprensa concede tradicionalmente ao direito de resposta, se e quando o reconhece e o acata: a informação imprecisa ou inidônea é divulgada com um destaque e uma dimensão que não se confere à resposta postulada e concedida.

O presente confronto entre a empresa e alguns veículos de comunicação tem inegável cunho político, com favorecimento de segmentos partidários que se opõem ao Governo Lula. A Petrobras encontra-se, infelizmente, na linha de tiro do canhoneio contra ela assestado. Atacá-la com a virulência que se anota agora não faz bem ao País.

Rio de Janeiro, 9 de junho de 2009
Maurício Azêdo, Presidente”

Vá ao blog da petrobrás

Babilônias reencarnadas






















(Félicien Rops, a tentação de Santo Antônio, 1878)


Em Paris, durante o cerco por Bismarck em 1870, alguns meses antes da famosa Comuna, a situação estava um tanto calamitosa. Tal como em parte a descreveu Edmond Deschaumes, estudante adolescente, em seu diário:

Digard juntou-se à turma da noite depois de almoçar com um de seus tios no Hôtel de Ville, e nos contou algumas novidades espantosas. Na Praça, em frente à sede do governo, há um mercado de ratos. Os mais comuns são vendidos por trinta cêntimos, os gordos e suculentos custam sessenta. Ao mesmo tempo, descreveu o menu da refeição que o tio lhe oferecera: picadinho de lombo de gato, maionese, postas de cachorro com petits pois. Digard lambeu os beiços, gulosamente, e com um jeito arrogante declarou de maneira incontestável: "Comi uma carne de rato de primeira no restaurante do meu tio." E ainda acrescentou que o cardápio do tio incluía salmis de rato. Na sobremesa, devorou um pudim de tutano de cavalo.

(in Rupert Christiansen, Paris Babilônia, a capital francesa nos tempos da Comuna)

terça-feira, 9 de junho de 2009

o roda viva

Tenho andado muito cansado das escolas e, além disso, contraí um resfriado que já me aporrinha há uma semana. Mas na verdade estou é sem assunto, o espírito um tanto vazio e melancólico. Mais do que já normalmente sou. Por isso o silêncio do blog.
Só uma coisinha. Assisti ontem ao roda viva com o presidente da Petrobrás, o José Sérgio Gabrielli. O cara, apesar de rodeado dos urubus sinistros midiáticos de sempre, incluindo aí o excelente, tecnicamente falando, cartunista Chico Caruso, respondeu tudo com calma, fina inteligência e clareza. Os urubus ficaram rodeando. Logo no começo vieram com a história de que o tratorístico blog da Petrobrás era uma forma de manipulação da informação (feita pelo Lula é claro) e que ele, o blog, desrespeitava a liberdade de imprensa e passava por cima dos legítimos representantes da informação no país. Gabrielli, é claro, mui gentilmente, deixou claro que todas as informações publicadas no blog eram informações da própria Petrobrás e que ela não tinha que pedir consentimento a ninguém para utilizá-las. As pessoas, o público, o povo, que fizesse seu próprio julgamento. E além disso, seria bom os jornalistas perceberem, afinal, que o tempo em que eles monopolizavam a notícia e a informação acabou. Eu, se eu estivesse ali, diria que eles, os jornalistas, não são tão importantes como pensam que são. Um deles, da revista visão, esqueci-me o seu nome, questionou a indicação de Gabrielli para o posto de presidente da estatal, insinuando que a sua indicação era política e, portanto, nociva aos interesses da empresa. Gabrielli lembrou-lhe os prêmios que acabara de receber como presidente de uma empresa petrolífera. O barbeiro Heródoto, questionou, como acionista, os destinos da empresa. Gabrielli só faltou lembrar-lhe o quanto suas ações haviam valorizado nos últimos seis anos.
A coisa toda, enfim, foi mais um tiro no pé do PIG.
Eu acho que esse porco vai continuar com a suas porcarias e, lenta, mas seguramente, vão abrir falência e fechar as portas.

Provérbios gregos