quarta-feira, 30 de abril de 2008

Humberto Mauro



Hoje, dia 30 de abril, há um outro aniversário importante. Este, para nós brasileiros e amantes do cinema. Há 111 anos nascia Humberto Mauro. Um dos pioneiros do cinema no Brasil e no mundo. Deixo dois links (queria que fossem três, mas não encontrei o Chuá-chuá) para alguns de seus mais conhecidos curta-metragens:

a velha a fiar


a casinha pequenina

E por falar em tio decadente




Aproveitando a deixa, vale lembrar que no dia 30 de abril de 1975 terminava a guerra do Vietnã, com a tomada de Saigon pelos vietcongs. Os EUA perderam quase 60.000 soldados e os orientais, principalmente norte-vietnamitas, algo como alguns milhões entre militares e civis. Uma miséria.
Naquele tempo, já a América estava percorrendo o seu calvário de decadência. Depois dos sessenta o que a América criou de positivo para o mundo?

Decadente, mas nem tanto




O nosso vizinho poderoso do Norte está, visivelmente, em processo de decadência. Não apenas por seus mais recentes problemas econômicos, como o do mercado imobiliário e os seus fracassos nas tentativas de criação de um bloco econômico em que seja o líder, mas também por suas posições políticas isolacionistas que o levam, cada dia mais, a ser visto com antipatia pela maior parte da opinião pública mundial. Uma nação que, sem dúvida, trouxe inegáveis inovações e contribuições positivas na história da humanidade, mas que parece viver atualmente só do passado e de seu patrimônio geo-financeiro. O mundo caminha cada vez mais rapidamente para um mundo de diálogo e de configurações regionais onde a instauração de blocos fortes promete a solução para aqueles países com maiores dificuldades na solução de suas próprias crises internas e também para aqueles que, principalmente, por suas características geográficas, possuem pouco ou quase nenhum poder de troca. Os EUA caminham a passos de gigante para a própria solidão. É verdade, têm uma economia fortíssima. Mas será que bastará para mantê-los vivendo saudáveis (e cada vez mais obesos) em sua torre de marfim? Tiveram sempre a postura de apelar para as armas toda a vez que se sentem ameaçados em seus planos de domínio planetário e de hegemonia cultural. Como não o podem fazer pessoalmente a toda hora, terceirizam. É o que vêm fazendo aqui na américa latina já há muitas décadas. Com o advento dos governos populares alinhados com a esquerda na última década, os EUA vem sentindo uma crescente ameaça ao seu antigo domínio na região. Não nos enganemos, excetuando nossas próprias incopetências, quase tudo o mais que nos "atravanca o pogresso" é a influência nefasta norte-americana.



Agora, eles têm restaurada sua 4ª frota para o atlântico sul, coisa de uma dúzia de navios, incluindo um porta-aviões atômico. Todos sabem da possibilidade de um ataque armado à Venezuela, em parte pela oposição radical de Hugo Chavez, em parte pelo estabelecimento de uma possessão estratégica norte-americana na amazônia e em parte pelas reservas de petróleo. Uma outra linha de ação vem sendo posta em prática na Bolívia com o investimento maciço de capital na direita ultra-conservadora local. A idéia parece ser a de criar um racha em pleno coração da américa do sul, configurando-se uma zona de conflito que possa se multiplicar e trazer instabilidade na região. Esta instabilidade poderia justificar uma agressão armada. A questão é, evidentemente mais complexa, mas não podemos deixar de nos informar a respeito. Cá com meus botões acho impossível uma tentativa de invasão ao Brasil, mas não descarto uma invasão da amazônia via Colômbia, Venezuela e Equador, incluindo aí a Bolívia criando uma ponte, pela bacia paraguai-prata até o Paraguai, que já anunciou seu interesse em participar da revolução popular que vem se desenrolando no continente. Neste sentido, nosso país ficaria isolado na região. Mas, francamente, acho tudo isto uma loucura tão grande, e um passo tão maior que as pernas do gigante decadente do norte parecem ser capazes de aguentar, que não creio que possa ser feito. De qualquer forma, a desestabilização da região já atende a alguns interesses norte-americanos e vai depender muito do que as urnas no fraudulento plebiscito do próximo domingo vão mostrar na Bolívia. Ainda que com capital norte-americano e a formação de milícias armadas, esta região se constitui em uma ínfima parte da população boliviana e não tem o apoio das forças armadas; o que poderá levar, no caso de um conflito armado, a um massacre de proporções consideráveis. Vamos torcer para que tudo termine bem, para que, lenta mas seguramente, as elites latinas possam se conformar com o sentido de distribuição de renda que as eleições no continente têm indicado e que o governo brasileiro possa demonstrar sua liderança equlibrada nesta balança, interferindo com inteligência e moderação no desenrolar dos fatos.

terça-feira, 29 de abril de 2008

uma partida



Faz hoje 17 anos que o Gonzaguinha partiu. A minha juventude ficou marcada com a música deste cara. Sambas e boleros belíssimos que estão na nossa memória coletiva brasileira, como: O que é o que é, Espere por mim morena, Ponto de interrogação, É, Grito de alerta e a maravilhosa Começaria tudo outra vez, entre outras. Fica uma homenagem a um dos nossos artistas da música que mais deixa saudades.

Gonzaguinha - Explode coração

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Boas novas (aparentemente)



Nem tudo são notícias ruins. Quero crer que tenho uma boa nova. É que o nosso querido prefeito de nossa querida Belo Horizonte chamou mais cinco concursados para o cargo de professor de artes das escolas municipais. Agora, sou o terceira na fila. Já começo a preparar a documentação. Se digo que "quero crer" é porque eu, assim como quase todos os colegas meus pares, estamos já bem de saco cheio do magistério. Não há dia que não tenha um aborrecimento na escola. É uma profissão desgastante, a danada. Mas, como dou aulas em Contagem, e BH está a anos luz de distância em estrutura, salário e projeto político pedagógico, que não posso deixar de pensar que alguma coisa vai melhorar. Eu espero.

Uma tarde que não se esquecerá nunca



Nos meus quase quarenta anos de torcedor, nunca vi vexame maior. Confesso que, apesar de ter me afastado de debates futebolísticos já há tempos, nunca deixei de torcer pelo Galo. Mas desta vez acho que ficou claro para todos que o time acabou. Esta derrota não foi apenas vexamosa, foi algo mais, assim como um atestado de óbito. São 8:15 da manhã de segunda, ainda não fui à rua, mas estou desconfiado que não veremos as tradicionais camisas alvi-negras, tão típicas das manhãs de segunda, após o Atlético ter perdido uma partida no dia anterior. Não há clima nem mesmo para o mais fiel dos torcedores, o golpe foi mortal. Não se trata de uma derrota a mais apenas, a agonia do time vem já de muitos anos. Acho que desde aquelas derrotas na virada dos 70 para os 80 o time só vem colecionando fracassos. Já está no nosso dna. Com muita tristeza admito que já não tenho esperanças mais com o Galo. Minas, agora, é um estado de um time só.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Inclusão de uns, exclusão de muitos

Na página da wikipédia dedicada ao tema"educação inclusiva" lê-se no primeiro parágrafo:

"A educação inclusiva é um processo em que se amplia a participação de todos os estudantes nos estabelecimentos de ensino regular. Trata-se de uma reestruturação da cultura, da prática e das políticas vivenciadas nas escolas de modo que estas respondam à diversidade de alunos. É uma abordagem humanística, democrática, que percebe o sujeito e suas singularidades, tendo como objetivos o crescimento, a satisfação pessoal e a inserção social de todos."

Quem quiser ler todo o tópico pode clicar aqui

Percebe-se o conceito de abordagem democrática que tem como objetivos o crescimento, a satisfação pessoal e a inserção social de todos. Ora, se é democrático, subentende-se o interesse da maioria ou de todos? Está claro, de todos.
Em outra parte do texto lê-se:

Definição

De acordo com o Seminário Internacional do Consórcio da Deficiência e do Desenvolvimento (International Disability and Development Consortium - IDDC) sobre a educação inclusiva, realizado em março de 1998 em Agra, na Índia, um sistema educacional só pode ser considerado inclusivo quando abrange a definição ampla deste conceito, nos seguintes termos:[1]

  • Reconhece que todas as crianças podem aprender;
  • Reconhece e respeita diferenças nas crianças: idade, sexo, etnia, língua, deficiência/inabilidade, classe social, estado de saúde (i.e. HIV, TB, hemofilia, Hidrocefalia ou qualquer outra condição);
  • Permite que as estruturas, sistemas e metodologias de ensino atendam as necessidades de todas as crianças;
  • Faz parte de uma estratégia mais abrangente de promover uma sociedade inclusiva;
  • É um processo dinâmico que está em evolução constante;
  • Não deve ser restrito ou limitado por salas de aula numerosas nem por falta de recursos materiais.
Ora, não se vê relacionado no rol das diferenças a indisciplina ou o desrespeito para com os demais. Percebo que o que se entende por diferença é uma condição natural ou cultural que possa dificultar o acesso à educação e à aprendizagem. Podemos considerar a indisciplina como uma dessas condições?
No meu caso, professor de EJA (Educação de jovens e adultos), deparo-me diariamente com a seguinte situação: Em uma sala de quarenta alunos há quase sempre dez por cento de indivíduos (em sua maioria jovens) que não têm qualquer interesse em estudar e só enxergam a escola como ponto de encontro para a turma, para a paquera ou para o consumo de drogas. Estas pessoas estão na escola ou por imposição dos pais (em alguns casos por causa do bolsa-família) ou por considerarem a escola apenas como espaço de socialização. Elas estão sendo incluídas (note-se o uso da voz passiva) sem querer sê-lo. Então me pergunto: Pode a inclusão ser forçada? É um direito ou um dever?
Se é um dever, o indivíduo não deve cumpri-lo sob pena de perder o direito?
Se é um direito, que sentido faz se incluir forçadamente um para excluir-se, em seu lugar, vários? E o direito destes vários?
É o que tem acontecido na escola em face do comportamento de inúmeros indivíduos jovens que não têm interesse pelas aulas e, consequentemente, com seus comportamentos, tornam inviável o ensino e o aprendizado para os demais. Então torno a perguntar: Pode a indisciplina ser considerada uma diferença para o critério de inclusão? Em meu ponto de vista, não. Inclui-se uns, exclui-se outros.
Vários entre os alunos interessados em aprender os conteúdos têm abandonado a escola por entenderem que não está sendo possível o aprendizado por causa da indisciplina dentro das salas de aula. Os conselhos tutelares argumentam que questão de disciplina deve ser resolvida pela escola. Ora, como se pode resolver, se não há qualquer punição ao comportamento indisciplinado. Não se pode ao menos suspender tais alunos. Nem por um dia. Ele ou ela, assim, sente-se impune e tem como garantida sua forma de participação anti-social. Ou melhor, uma espécie de anti-alteridade instituída.
É preciso que o conceito de inclusão seja melhor esclarecido para que não se permitam distorções como essas às quais estou me referindo.
Ontem, mais de trinta alunos foram prejudicados, durante uma sessão de vídeo, por outros três jovens que fizeram tudo que queriam fazer, (seria hilário se não fosse triste: um deles, de quatro, latindo e rosnando, só faltando levantar a perna e urinar em uma cadeira), mas que foram incapazes de respeitar os demais. Pouco pude fazer, pois pedir ( só o que podemos) para respeitarem o espaço escolar não adiantou nada. Eles estavam confiantes na própria impunidade. A supervisão, a direção da escola e o conselho tutelar fizeram suas abordagens; mas como disse, não haver punição, para esses alunos, é um atestado para fazer o que bem entendem. E os demais saíram magoados e se sentindo injustiçados.
Inclui-se uns, exclui-se muitos.
Será que estou enganado, ou sendo preconceituoso, ou intolerante?
Só sei que assim desse jeito, esta tal de inclusão é uma merda!

terça-feira, 22 de abril de 2008

William Bonner não é Homero


Muito se tem usado, nos últimos dias aqui no Brasil, a palavra tragédia a propósito do triste e horrível caso da menina Isabella. É fato que a expressão tragédia, em nosso mundo, adquiriu o significado de toda grande dor imposta ou infligida a um ser humano e que acaba por ser funesta a si ou a outrem. No entanto, se trata aqui de um uso indiscriminado e equivocado. Tragédia tem origem no grego τρᾶγῳδία que significa algo como "canto dos bodes". Estes bodes se originam dos sátiros que acompanham os cortejos de Dionísio, deus do vinho, dos prazeres e das diversões. Vem do culto de Dionísio as origens do teatro.
Para Aristóteles, o espetáculo para ser trágico, deveria sempre provocar a catarse, isto é, a purificação, no público, de pensamentos ou sentimentos doentios, reprimidos aos limites do inconsciente. Tomando-se de compaixão pelas desventuras do herói, o público deveria passar por uma purgação coletiva, curando-se de suas próprias dores, de seus próprios traumas. O protagonista deve ser sempre o herói trágico, isto é, aquele indivíduo que apesar da própria desgraça, consegue manter sua dignidade e integridade moral até o fim, pois que sabe não haver saída para o seu azar. Daí que não se pode atribuir uma tragédia a alguém que se viu envolvida nos acontecimentos sem que sua vontade deles participe. O destino é inexorável na tragédia, não se pode evitá-lo e nela se adentram os de maior caráter, quais sejam, os heróis.
No meu modesto entendimento o emprego da palavra tragédia é um exemplo da banalização a que se deu a determinados conceitos que os fazem perder seu sentido original e autêntico, deslocando o foco para um outro conceito de infinito menor valor. Tal é o caso de se utilizar a expressão para conceituar acontecimentos os mais díspares como o espetáculo do circo romano, a queda de um avião com centenas dentro, uma guerra estúpida ou mesmo a derrota da seleção brasileira para a Itália em 82.
As pessoas que iam ao teatro de Dionísio assistir a uma representação trágica sabiam, em sua maioria, que iriam sair dali mais humanizadas - no sentido positivo - quão maior fosse o texto encenado. Dizer que as tragédias gregas não passavam de um culto doentio da dor, do drama e do sofrimento e compará-las aos espetáculos de sangue e vísceras espalhadas no coliseu romano, ou à quantidade de notícias sobre crimes que pululam nos jornaizitos populares é de um simplismo medonho. É achar que se pode excluir da existência humana a dor ou o sofrimento. Chego a pensar se não é quase fascista tal postura ontológica, excluir o negativo para que se fique somente o positivo da dimensão humana. Se assim fosse, teríamos que proibir qualquer assunto onde algo sofra. Teríamos que queimar todos os grandes clássicos da literatura, ou os quadros de Goya, Picasso ou Velasquez (entre muitos outros), ou as peças de Mozart, Bellini ou Bizet e ainda toda a produção romântica e muita coisa mais. A vida tornada num eterno jardim de rosas. Não meus amigos, a vida deve ser plena e não pela metade. A dor e o sofrimento não podem ser ignorados. Algumas das pessoas que afirmam estar o ser humano pateticamente agarrado a uma moral da dor e do sofrimento ao se referirem às artes dramáticas não sabem o que estão falando. Criticam o uso do tema se utilizando do mesmo tema. Jornalismo-entretenimento não é e nunca será Arte. Se eu descobrisse aqui e agora que William Boner é perfeitamente capaz de substituir Homero, acho que desistiria da vida, pois tudo que amara minha vida inteira perdera o sentido. O dia em que o ser humano deixar de cometer atrocidades poderá a arte se ocupar apenas de temas leves (ou não), mas até lá é uma ferramenta para nos ajudar a perceber que a vida é mais que apenas o maniqueísmo do bem e do mal, que a vida não é só isto que se vê, é um pouco mais.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

A Norma







Se alguém tiver informações sobre Cecilia Bartoli, ajude-me. Gostei mais da versão dela do que de Callas ou de de Caballe. É uma questão de gosto, mas achei sua interpretação mais natural, mais parecida com o arquétipo de Norma, a sacersotisa. De qualquer forma, embora haja uma competição entre os diversos fãs, penso que todas são lindas. Mas gosto, especialmente, desta ópera, pois tenho-a ouvida desde a mais tenra infância, é o nome de minha mãe e loucura de vovô. É pouco conhecida a história de amor entre a sacerdotisa celta e o general romano.

A casta diva

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Muitas coisas

Estou sem condições psíquicas para fazer postagens mais interessantes. Além dos recursos contra uma prova mal elaborada e um gabarito pior ainda de um concurso público em que me envolvi, há os bandidos da escola aterrorizando todo mundo. Não sei o que fazer sobre isto e tenho que preparar sete recursos para aquilo. Se Deus existir, peço sua ajuda.

terça-feira, 15 de abril de 2008

O Paulo Henrique Amorim










A galera consciente politicamente e que atua ou que simplesmente frequenta a blogosfera em, vale dizer, blogs como o do Nassif, do Eduardo Guimarães, do Azenha, do Idelber ( que hoje esquentou o clima com um post sobre o Nassif que é, no mínimo, instigante ) e de muitos outros tão ou menos conhecidos, conhece a história recente entre o jornalista Paulo Henrique Amorim e o portal ig. O jornalista, por suas posições corajosas face à mídia brasileira apodrecida e gasta ( O PIG - partido da imprensa golpista ), foi sumariamente expulso do portal onde mantinha seu blog. A história toda foi incansavelmente debatida na ocasião - há coisa de um mês atrás - e basta fazer uma busca no google ou nos blogs já citados para, aqueles que desconhecem do que estou me referindo, se inteirarem do acontecido. Pois bem, já desde ontem havia decidido por, hoje, fazer um post com um link para o novo site do PHA onde, ontem dia 14, ele me apareceu com uma de suas já conhecidas e refinadas ironias. Aproveitando, também, o convite do Edu Guimarães para difundirmos o novo endereço do Paulo, fica aqui o toque para uma visita. Vale a pena, é muito engraçado. Ironia fina.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Música clássica - Gluck, Orfeu e Eurídice














Gosto sempre de ilustrar as postagens. E procuro na web por imagens da arte. Sobre Orfeu e Eurídice há muita coisa, foi difícil decidir. Fiquei com este mármore de Rodin que tirei do blog "Noturno com gatos". Uma escultura para variar. Mas há por sua vez no interessante blog "Livros de Prospero", uma pintura de Corot também muito bonita. Vale a pena visitá-los, pelas imagens e textos.


Muito pouco sei sobre Orfeu. Sabe-se que foi um dos argonautas que, com Jasão, foram buscar o velocino de ouro na distante Cólquida, no Caúcaso. Região inóspita de altas cordilheiras, separa o mar negro do cáspio. Hoje é a Geórgia. O mito de Eurídice, que é tão bonito, provavelmente foi acrescentado tardiamente aos mitos de Orfeu. Está intimamente ligado aos cultos de Deméter e Perséfone, que por sua vez se associam à Deusa Mãe, à terra e aos ciclos vegetais de nascimento e morte. Perdem-se nas noites do tempo. Muito preciso estudar sobre tais histórias para poder falar com mais propriedade. Há um livro na biblioteca pública (atualmente tenho que me contentar com ela) o qual esqueci o nome, mas que vou reler pois esclarece alguma coisa sobre os cultos Órficos em Delfos e sua relação com Eléusis. Sei que Orfeu representa um apogeu e, ao mesmo tempo, sua morte uma ruptura com antigos valores ligados às antigas iniciações e aos mistérios. De vez em quando vou falar sobre isto aqui no blog. Muito me interessa. Mas por agora quero terminar este dia de variadas postagens com a lendária história de amor que muita arte tem inspirado ao longo dos séculos. Há um site que visito sempre especialmente pelos textos de mitologia, o "Luna e amigos" onde se pode ler uma versão da remotíssima história. O trecho que narra o momento em que Orfeu canta pela volta de Eurídice é muito belo. Vale a pena dar uma olhada. Deixo aqui o link do youtube com o "Che puro ciel!", um trecho da ópera de Gluck que há mais de vinte anos não deixo de me emocionar ao ouvir. Na página há maiores informações sobre a gravação. O vídeo trás também as letras, em inglês e no original italiano. É lindo.

Gluck, a ária de Orfeu e Eurídice

Lusofonia - Amália Rodrigues

















Como já disse, gosto de fado. O dicionário Aurélio diz em seu verdete:

Fado. S.m. 1. V. estrela (5). 2. Canção popular portuguesa, de caráter triste e fatalista, linha melódica simples, ao som da guitarra ou do acordeão, e que provavelmente se origina do lundu do Brasil colônia, introduzido em Lisboa após o regresso de D. João VI (1821). 3. Bras. No séc. XVIII, dança popular, ao som da viola, com coreografia de roda movimentada, sapateados e meneios sensuais.


Pode-se ver que esta canção tão tipicamente portuguesa deve ter se originado no Brasil. Gosto das músicas populares simples, aquelas de três ou no máximo cinco acordes. Assim são os blues, os cocos, xotes, baiões e xaxados do nordeste, os lundus e carimbós do Pará, os bois de orquestra do maranhão, os sambas mais simples dos compositores dos morros e, entre outros mais, os fados portugueses. Acho-os de uma tristeza resignada (fatalista mesmo) mas não tão sensuais como os blues. Há toda uma influência do catolicismo nos fados, embora os compositores mais modernos já não os fazem tão influenciados pela religiosidade cristã, típica da cultura portuguesa. Há os que diminuem os portugueses por seu catolicismo entranhado. Mas eu não penso assim, há que se estudar ainda muito este povo para julgá-lo apenas por sua religiosidade. Talvez o Portugal de hoje seja apenas pálida sombra do que o foi outrora; como em Pessoa, no último poema da "Mensagem", Ó Portugal, hoje, és nevoeiro... Talvez Portugal tenha entrado em uma fase obscura, uma espécie de idade média, depois que El Rei D. Sebastião desapareceu nas planícies de Alcácer-Quibir. Talvez, quem sabe (e me perdoem o ufanismo aqueles portugueses que lerem o que vou dizer), esteja o lusitanismo vivo e transformado no sangue do povo brasileiro. Quem sabe não somos nós, o Brasil e demais países de língua portuguesa, o "Quinto Império"? Um império que se constitui na unidade de um idioma que se encontra espalhado em todos os cantos do planeta. Mas acho que estou divagando demais. Vamos deixar este tema para outra ocasião.
Toda esta história (que me fascina) para falar da grande cantora portuguesa que é Amália Rodrigues. De uma voz forte e precisa, personalidade marcante e que fez do fado uma espécie de bandeira da cultura portuguesa para o mundo todo, como o samba o é para o Brasil. Além disto, dotada de uma beleza extraordinária; algo de olhos gregos, firmes, embora o perfil típico português, que me lembra minha mãe e minha tia Marina (que está no céu) que vivia no Rio e que por causa disto, ou não, me lembra também as cariocas, que por razões óbvias, as mais brancas (não há racismo aqui, caro leitor ou leitora), trazem traços portuguêses típicos.
Este vídeo que, encontrei no youtube, não a mostra ao vivo, mas trás a vantagem de oferecer várias imagens (fotos) de Amália em épocas diferentes de sua vida.
Sempre, ao contrário dos fados que cantava, feliz.

Amália Rodrigues - Nem às paredes confesso

A guerra do fogo - beleza, fanatismo e ignorância






















Como mencionei em um post passado, passei para meus alunos o filme "A guerra do fogo". Quase todos gostaram muito do filme e vários me pediram uma cópia. O filme é de uma poesia sensível e silenciosa. Não há diálogos traduzíveis, isto é, não importa o que os personagens falam pois se trata de uma linguagem rudimentar e desnecessária à compreensão da história. O trabalho de expressão corporal é maravilhoso. A cena em que o protagonista presencia a fabricação do fogo pela primeira vez é linda. Uma música (a trilha sonora, instrumental, auxilia no entendimento das cenas) dramática em crescendo, o homem estupefato, o fogo se acendendo, sua expressão de mistura de espanto, assombro, alegria e compreensão. Tal cena mereceu de uma aluna, senhora já, faxineira da escola, recém alfabetizada a seguinte fala: _Professor, fiquei tão emocionada com aquilo!...São estas coisas que ainda me mantêm na escola, que dão sentido a toda aquela droga: Escutar de alguém uma palavra sensível, um registro de fruição verdadeira, um gesto humano.
Os que não gostaram foram os previsíveis de sempre: os néscios e os fanáticos religiosos. A fanáticos me refiro aos que acreditam (ou querem acreditar) na versão bíblica sem uma pitada de crítica sequer. A minha Bíblia é a "Tradução do novo mundo das escrituras sagradas" (Watch tower bible and tract society of Pennsylvania, 1984), cuja edição em português é de 1992. O texto foi traduzido diretamente do hebraico e do grego para o inglês ao longo dos anos 50 e 60. Inicialmente lançada em seis volumes, a obra, posteriormente, recebeu revisões e notas. Bem, não sei nada de hebraico e por isso não posso falar sobre a parte do velho testamente desta edição. Mas os textos gregos dos apóstolos são muito fiéis ao códice do século IV D.C. que se encontra no Vaticano e é o mais antigo manuscrito completo dos quatro evangelhos que se conhece. Esta Bíblia, segundo me falou um colega de aulas de grego, é aquela utilizada pelas Testemunhas de Jeová. Não sei nada disto também, não sou católico nem protestante. No entanto, alguns professores da escola, evangélicos, tentaram desclassificar esta Bíblia. Ficaram sem argumento quando lhes disse que estava fazendo a tradução do evangelho de João e pude perceber que ela era praticamente literal. São interessantes todas essas diferenças e dissensões dentro da Igreja. Por mim, quero que se danem todas. Não gosto de Igreja alguma.
Mas voltando ao assunto inicial, lá no Gênesis da minha Bíblia recusada, no capítulo dois, versículos 6 e 7 lê-se assim:
" 6 Mas uma neblina subia da terra e regava toda a superfície do solo.
7 E Jeová Deus passou a formar o homem do pó do solo e a soprar nas suas narinas o fôlego da vida, e o homem veio a ser uma alma vivente."
Não é preciso ser nenhum grande estudioso da História ou da Ciência para se fazer uma relação entre este verso e as teorias científicas. Ora, o homem surgiu do pó, ou da lama como se pode verificar pela mistura de terra e umidade. A ciência nos fala da sopa primordial, dos unicelulares, da evolução.
Como sou professor, preciso me limitar em minhas afirmações à versão da ciência. Isto não me impede de emitir opiniões pessoais, desde que deixe claro aos alunos que se trata de uma opinião pessoal, uma crença. Se foi Deus ou a evolução que fez o homem, confesso que não sei dizer e que não me interessa esta dicotomia porque tudo se trata de uma coisa só. Deus é os homens e estes são a ciência. A genética e a reencarnação são uma coisa só e, muito provavalmente, há um plano por trás de toda evolução. Isto em minha modestíssima opinião. Mas os fanáticos têm medo de Deus. Que se danem também os fanáticos!
Já os néscios, estes são para mim um mistério. Jamais encontrei uma forma de falar-lhes. São pior que pedras pois estas ainda são sensíveis à temperatura e pressão. Mas já dizia Sócrates que o pior da ignorância era ignorar-se a si mesma.
Deus os ajude.

Ps. Depois vou fazer um post sobre o filme e sua relação com a ascensão do patriarcalismo.

As águas de abril prolongando o verão

















Pode não parecer, mas está chovendo.

Então já estamos entrando na terceira semana de abril e o nosso céu ainda não abriu. Cada ano que passa as chuvas vão se estendendo outono adentro. Como sou um réles professor primário (meus alunos adultos são primários) não tive como bancar um automóvel ainda e tenho que me contentar com a motocicleta. Moto com chuva é uma b ! Tudo fica muito mais perigoso. Aquaplanagem, motoristas loucos, viseira do capacete embaçada (ou então chuva na cara), gripes e resfriados, frio, desconforto das roupas molhadas, a moto constantemente suja. Como me desloco 16 km até a escola, prefiro me arriscar do que usar o guarda-chuva associado aos ônibus e ao metrô. Que ainda tem a desvantagem de levar o triplo do tempo para o percurso. Mas tudo bem, as plantas gostam e, ainda que em excesso, a monotonia do barulho da chuva é bem agradável à noite na hora de dormir. Houve época em que gostava muito de observar a chuva depois de rodear a praça enquanto o lobo não vinha. Hoje ando meio parado, hehehe. Mas que ainda é bom é. De vez em quando.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

A violência na escola e a omissão do estado

Hoje, lá na escola, nos reunimos os professores para deliberar sobre o problema das constantes ameaças que nos têm sido impostas por um grupo de alunos, dentre os quais, um em particular. Já havíamos decidido, em conselho, pela exclusão desse aluno. O diretor decidiu desconsiderar-nos e apenas conversou com o marginal. O indivíduo se está tornando pior. Percebeu que a direção é frouxa. Hoje, convocamos a direção novamente para comunicar-lhes que nos recusaríamos a entrar naquela sala, qual seja, a do aluno-bandido. Todos os professores nos posicionamos novamente pela expulsão do dito cujo. O diretor ouviu calado para no final apenas dizer que a escola é "inclusiva" e que a direção estava de "mãos amarradas". Quer dizer que somos ameaçados por um bandido, que só vai a escola para traficar drogas e ameaçar professores, e o estado não pode fazer nada sobre isto? Há algo muito errado. Me vendo obrigado a radicalizar, pois tenho a minha integridade ameaçada, avisei que me defenderei, utilizarei meu direito à legítima defesa e que, se preciso fosse, e me encontrando em uma situação de barbárie, onde a civilização não existe, mataria se preciso. A que ponto esta situação horrorosa, meu Deus! Há momentos que rezo ao céus para que me tire deste lugar. Decidimos, os professores, se preciso fosse (e parece que o é), que entraremos com um mandado de segurança contra o estado, representado pelo município de Contagem. O direito à segurança está lá na constituição e nos recusamos a aceitar esta situação absurda. Que raio de inclusão é esta que, para incluir um miserável psicopata, se coloca em perigo cidadãos de bem? Alguém explica?

quarta-feira, 9 de abril de 2008

A Odisséia - Meu filho, que palavra te escapou da barreira dos dentes!

















Porque não posso deixar de falar das coisas que gosto. Segue este trecho da rapsódia XIX da Odisséia, na tradução para o português, em prosa, de Antônio Pinto de Carvalho.

A velha, que tomara na palma da mão a perna de Ulisses, ao apalpá-la, reconheceu a cicatriz; largou o pé, que caiu dentro da bacia, o bronze ecoou, o vaso oscilou e a água entornou-se pelo solo. Então, seu coração, a um tempo, foi tomado de tristeza e de alegria, os olhos se lhe encheram de lágrimas, a voz se lhe tolheu na garganta. E, tocando no queixo de Ulisses, disse: "Sem dúvida, tu és Ulisses, meu filho querido! E eu não te reconheci! Foi preciso primeiro ter tocado no corpo de meu amo!" Disse, e ergueu os olhos para Penélope, querendo preveni-la que seu marido estava ali, em casa. Mas Penélope nada reparou nem percebeu, porque Atena lhe desviara a atenção. Entanto, Ulisses com a mão direita agarrou a ama pela garganta, e com a esquerda atraiu-a a si e lhe disse: "Velha ama, não me queiras deitar a perder. Tu me criaste e me trouxeste ao seio. Hoje, depois de tantos sofrimentos, regressei enfim, volvidos vinte anos, à terra pátria. Já que me reconhecestes e um deus te fez descobrir a verdade, cala-te, e que em palácio ninguém o saiba. Porque, eu te declaro - e não serão baldadas minhas palavras - se um deus fizer que os nobres pretendentes sucumbam a meus golpes, quando, em meu palácio, matar as outras escravas, não te pouparei, muito embora hajas sido minha ama". A prudente Euricléia lhe respondeu: "Meu filho, que palavra te escapou da barreira dos dentes! Sabes, no entanto, quanto meu coração é firme e inabalável; serei como a dura rocha, como o ferro. Mas uma coisa te quero dizer: grava-a em teu espírito. Se um deus fizer que teus golpes prostem os nobres pretendentes, indicar-te-ei quais as mulheres que em teu palácio te desprezam e quais as que te respeitam". O industrioso Ulisses lhe replicou: "Velha ama, para que indicar-mas? Não é preciso. Por mim próprio as observarei e avaliarei o que vale cada uma delas. Agora, guarda silêncio, nem uma palavra, e confia nos deuses". Disse; e a velha atravessou o palácio a fim de buscar água para novo banho, porque a primeira entornara-se toda. Depois de ela ter lavado e ungido o amo com óleo pingue, Ulisses puxou novamente a cadeira para junto do lume, para se aquecer, e cobriu a cicatriz com os farrapos.

Há tanto neste trecho de literatura que coitado sou eu pra dissertá-lo. Mas chamo a atenção para a beleza de três coisas: A síntaxe portuguesa, o tempo, e a cena em si. Ainda não pude lê-lo no original. Mas chego lá. O que me impressiona é que, tendo mais de dois mil e quinhentos anos, soa tão real. Posso imaginar o quarto, à noite, onde se encontra Ulisses e Euricléia. E Penélope ao fundo. Escuto o som do bronze da bacia a tilintar no duro chão e da água a se espalhar em meio à angústia da situação. Posso ver o rosto da ama a se estupefar de surpresa, o de Ulisses a ansiar. Nem posso falar da mão na garganta a apertar, sou incompetente demais para isto. Em meio ao domínio do homem, há a doce e firme palavra da mulher, com que este post finalizo: "Meu filho, que palavra te escapou da barreira dos dentes!"

terça-feira, 8 de abril de 2008

Música clássica






















Ando estudando para um concurso público e não tenho tido tempo para as coisas que mais gosto. Mas para não deixar o blog muitos dias sem alguma postagem, vamos divulgar um pouco de música de qualidade como este concerto para piano de Mozart. Não sei fazer nenhum comentário técnico sobre a música clássica mas gosto muito dessa peça que é executada aqui pelo pianista Friedrich Gulda. No entanto, mesmo na minha ignorância posso perceber o estilo do compositor austríaco: uma certa mistura de leveza, humor e dramaticidade. Chamo a atenção para o acento que os violinos dão à cabeça do compasso na parte intermediária que é a mais dramática. Uma beleza!

ps. Esta é a segunda parte do concerto, a que mais gosto.

Mozart - concerto 20 em d, K.466 2-romance

sábado, 5 de abril de 2008

Tróia, o filme



















Assisti ontem ao filme Tróia, aquele em que Brad Pitt é Aquiles. Como filme de ação, gostei. Há boas cenas de batalhas e a produção dos cenários e figurinos me pareceu atender à maneira como as coisas se dispunham naquela época. Porém, do ponto de vista da arte dramática, o filme deixa muito a desejar. Brad Pitt, que quando quer consegue ser mais que um homem bonito, não parece muito interessado em sua atuação. Diane Kruger (Helena) e Orlando Bloom (Páris) são horríveis. Dentre a atuação apenas mediana dos demais, pode-se destacar as de Brian Cox (Agamenon), Eric Bana (Heitor) e a do único grande ator do filme, Peter O'Toole (Príamo). Este protagoniza a melhor cena onde o rei Príamo implora a Aquiles o corpo do filho Heitor. Embora Pitt não colabore, O"Toole carrega a cena sozinho. Vale dizer que esta passagem é uma das mais belas e tocantes da Ilíada. Quem já a leu se lembrará. Outra passagem magnífica do livro é tratada de forma que eu diria até irresponsável, como a da despedida entre Heitor, Andrômaca e Astíanax. Esta passagem é talvez a mais singela e humana de um livro onde a tônica é a guerra e o horror que esta encerra. Também não há a menor consideração pela participação dos deuses. Em Homero estes são protagonistas tão atuantes quanto os humanos e são decisivos nas lutas entre Heitor e Pátroclo, Páris e Menelau e Aquiles e Heitor. Nesta última, o filme mostra um Heitor a altura do terrível Aquiles de pés ligeiros. Homero não confere a Heitor este tamanho. No livro, Heitor, que apesar de valoroso, simplesmente foge de Aquiles que o persegue dando três voltas em torno da muralha em uma das passagens mais patéticas e humilhantes para os troianos. Um outro trecho do livro, que é também tocante pois cheia de dubiedade, foi eliminada. Logo após Agamenon ter roubado a bela Briseida do Pelida, este, à beira mar, chora de tristeza e saudade da donzela sendo consolado pela mãe, a nereida Tétis (no filme, Julie Christie, vocês se lembram, a Lara do "Doutor Jivago"). Esta passagem da epopéia me tocou e me fez refletir sobre a natureza dos grandes guerreiros. Eles não têm coragem apenas para lutar, mas para expor seus sentimentos também. O filme reduz o poema de Homero é claro. Não seria possível colocar todo o enredo (que ultrapassa em muito a própria epopéia tendo outras versões e variáveis) em duas horas de película. No entanto, não precisavam alterar o samba tanto assim, como dizia Paulinho da Viola. Com todas as maldades de Agamenon (que talvez as fosse obrigado a fazer) é absurdo colocá-lo sendo morto por Briseida, que no livro não teve maiores aparições e tendo sua importância em ser a causa da ira de Aquiles. Aliás, nem Agamenon, nem Menelau, nem o gigante Ájax morrem em terras troianas. Este último, de fato morre em Tróia, mas suicidando-se, numa história que mereceu pelo menos uma tragédia, que eu saiba, de Sófocles. No mais, senti falta de Hécuba, Cassandra, do outro Ájax, Diomedes, de Enéas (que aparece de forma ridícula) que vai ser cantado na difícil Eneida de Virgílio, de Afrodite (que a meu ver, dentro do sentido mitológico da história, é a responsável pela guerra), de Hera terrível de olhos bovinos, de Zeus e Apolo, Hefesto e seu escudo para Aquiles e tantos outros a quem acompanhamos os dramas em uma história que se dobrou e desdobrou em muitas outras no que se convencionou chamar de ciclo troiano. É uma pena que o cinema americano, que é um dos únicos que tem condições de realizar uma superprodução, tenha tão pouca sensibilidade para tratar de temas assim complexos. No entanto, vale para aqueles que os desconhecendo são apresentados aos clássicos de uma forma mais fácil e acessível.
E, lembrando-me dos primeiros versos da Ilíada onde Homero diz:

"Canta, ó deusa, a cólera de Aquiles, filho de Peleu, funesta, que inumeráveis dores aos Aqueus causou e muitas valorosas almas de heróis ao Hades lançou, e a eles tornou presa de cães e de todas as aves de rapina; cumpriu-se o desígnio de Zeus, o qual desde o princípio separou em discórdia o filho de Atreu, senhor de guerreiros, e o divino Aquiles."

não posso fugir de meu romantismo e esquecer a causa de tamanha e funesta ira. Assim, fico com a lembrança de Briseida, ou Briseis, ou Hipodâmia (a belíssima e boa atriz Rose Byrne) deitada, a dormir, sonhando talvez que dias melhores virão.

terça-feira, 1 de abril de 2008

A violência na escola














Este ano as coisas não têm sido fáceis lá na escola. Há uma turma, em particular, que tem sofrido devido à estupidez juvenil. Um grupo de estudantes desta sala que vão à escola para tudo, menos para estudar. Conversam enquanto a gente dá alguma explicação, andam aos berros pelos corredores, falam obscenidades o tempo todo, deixam o celular no mais alto volume para poderem ligar uns para os outros durante a aula a fim de incomodar e terem a desculpa de sair de sala, quando a gente pede para se comportarem com um pouco mais de civilidade riem, debochando. Fumam maconha, crack e cheiram cocaína e entram em sala alucinados. Não fazem atividade alguma e não dão a mínima para os demais. Sinceramente, a juventude é a pior fase por que passa um ser humano, não tenho mais dúvidas. Principalmente quando o indivíduo é despossuído, alienado, egoísta, egocêntrico, pouco inteligente, agressivo, revoltado e sem-educação, entre outros defeitos mais. Hoje um deles estava atacado, dando porradas com uma correntinha nas paredes, nas mesas; entrando e saindo de sala como se estivesse em sua casa. Olhei para ele como que para entender o que devia fazer (porque nós, professores, somos quem tem que resolver este tipo de problema, como se fôssemos preparados para a tropa de choque, para sermos infantes da formação de batalha do exército armado) e aí me retornou: O que é que tá olhando professor?! Respondi que olhava para onde bem entendesse. Então ficou lá pelo fundo da sala resmungando e ameaçando que hoje, no final da aula, iria estressar. Que situação! O pior é que não vejo nenhuma luz no fim do túnel. O estado, por sentimento de culpa por uma dívida de 500 anos para com o povo, não sabe o que fazer, está engessado. Aquele ainda é de maior, o pior é quando são menores; aí é que não tem jeito mesmo. A lei determina que não pode haver punição. Então espera-se pelo pior para que algo seja feito. A diretoria da escola não pode fazer muito, ou se pode não o faz. Também teme. E a coisa vai seguindo. Enquanto isto, vou estudando para prestar concurso para outra atividade. Realmente não tenho tido mais paciência para isso...

O fado





















Tenho, sempre que posso e que a intuição me guia, apreciado a cultura portuguesa. Do fado, sempre gostei. De Pessoa, nem se fala. De Camões, só agora tenho podido me adentrar. Descobri há pouco tempo esta cantora de fados, Ana Moura, de quem gostei muito. Canta bem, tem um bom repertório e, o que é sempre importante para o artista, é bela.

Ana Moura - Os búzios

Provérbios gregos