domingo, 30 de novembro de 2008

soneto estranho

O poema, que é para ser lido no ritmo, é para ela, a qual espero o possa ler um dia. Vai depender da minha coragem para ser ridículo. Mas algo me inspira: Todos os poetas e poemas de amor são ridículos.

Você voltou e não sei por quanto tempo
ainda. A vida a chance me dará de um
beijo; um encontro fortuito , ou um ensejo
com a morte que enfim se me virá

tranquila. A morte, o amor que assim em mátria
língua têm ambas quase que o mesmo conceito,
aquilo que é mutável , vira um ao peito,
a outra as células aniquile ou extinga!

Pensei que tu, do sol, não viste a hora ainda
em que te vai falar aos átomos do corpo a Deusa;
presta atenção Teresa, vou ser o primeiro!

Oh sim, quero o sagrado templo onde possa eu,
inteiro, me refastelar em água, e terra, e a alma
em ar e fogo, oh queima a minha calma de beleza!

domingo, 23 de novembro de 2008

Às mulheres
















Este fim de semana consegui retomar o grego. Em algumas passagens recorri aos mestres. A maior parte, ainda assim, fiz sozinho. Além do arranjo. A consulta de Almeida Cousin foi fundamental.

Continua a solidão
de quem não está sozinho.
Os heróis e mestres do passado
vagueiam pela casa.
A deusa utópica também.
Mas não se enganem,
em meu vocabulário
utopia não é sinônimo
de quimera.
Talvez apenas
uma porta que não se vê
ainda.

ÀS MULHERES

Aos touros deu a natureza os chifres,
os cascos aos cavalos,
a ligeireza às lebres,
o abismo de dentes aos leões.
Aos peixes deu a natação,
o bater d'asas às aves,
aos homens resolução.
Às mulheres nada mais restou.
O que devo dar-lhes? pensou a natureza.
A Beleza:
Lanças e escudos
confrontando,
vence o ferro e o fogo
quem quer que seja bela.

Anacreonte de Samos

ΕΙΣ ΓΥΝΑΙΚΑΣ

Φύσις κέρατα ταύροις,

Ὁπλάς δ' ἔδωκεν ἵπποις,
Ποδωκίην λαγωοῖς,
Λέουσι χάσμ'᾽οδόντων,
Τοῖς ἰχθύσιν τὸ νηκτόν,
Τοῖς ὀρνέοις πέτασθαι,
Τοῖς ἀνδράσιν φρόνημα.
Γυναιξίν οὐκ ἔτ' εἶχεν.
Τί οὖν δίδωσι ; κάλλος·
᾽Αντ' ἀσπίδων ἁπασῶν,
᾽Αντ' ἐγχέων ἁπαντων,
Νικᾷ δὲ καὶ σίδηρον
Καὶ πῦρ καλή τις οὖσα.

(Ἐκ τῶν᾽Ανακρέοντος ᾠδῶν)

Delenda Tucanus


O título do post não é uma invenção minha. Na verdade é uma recriação de uma recriação. O Miguel do Rosário, do blog 'Óleo do Diabo' fez há uns dias uma postagem onde pede: Delenda Serra.
Eu já estendo o pedido à tucanada em geral. Não há o que se salve ali.
Para os que não sabem ou não se lembram, a frase original é de um antigo senador romano, da época da república ainda, quando da luta contra os cartagineses pelo domínio do mediterrâneo: Delenda Cartago! Catão era seu nome. Ele insistia que a única alternativa para o problema da concorrência cartaginesa era a destruição completa da cidade de Dido e de Aníbal. Acordos e pactos não mais interessavam. O seu pedido foi ouvido. Um general romano, que não era romano, conhecido como Cipião, o africano (o jovem), tomou e arrasou a cidade até aos alicerces. Depois mandou salgá-la, para que nada mais ali nascesse. Alguns anos depois os próprios romanos reconstruíram a cidade. Mas o estrago foi bem feito. Hoje, quem visita suas ruínas, na contemporânea Túnis, não mais vê ali qualquer lembrança da arquitetura dos cartagineses. Com exceção de algumas tumbas escavadas. Os prédios cartagineses já não existem desde 146 a.c. quando de sua tomada definitiva. Outro dia faço um post sobre a história dessa grande cidade e desse grande povo da antiguidade. O de hoje é sobre a educação no Brasil e o Vlad, que tem pretensão à presidência da república. Leiam:

E não é que tucanaram a lei do piso nacional?

Por Brunna Rosa [Quarta-Feira, 8 de Outubro de 2008 às 19:36hs]

Aprovada em julho deste ano, a lei do Piso Salarial Nacional dos professores é uma conquista história dos professores e pode representar o primeiro passo para uma série de modificações necessárias para valorizar a educação pública do país. A nova lei, além de institucionalizar uma remuneração mínima para a categoria no valor de R$ 950,00 para uma jornada de 40 horas semanais, garante que 33,3% das horas sejam destinadas a atividades extra-aula. O assunto é abordado em matéria da Fórum de outubro (em bancas a partir do dia 15) e não deixa dúvidas: garantir esse um terço da jornada para a preparação das aulas, correção de atividades e formação continuada será o grande desafio da categoria.

Na 3ª Reunião do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) foi preparada uma contra-proposta pedindo a revisão da lei no Congresso Nacional e no Senado. A nova “idéia” é a decisão do governo José Serra (PSDB) de contabilizar como horário para atividades extra-classe os intervalos de dez minutos entre as aulas na rede estadual.

A medida, segundo informações do jornal Folha de São Paulo, foi tomada para ajustar a rede à Lei do piso. Na mesma matéria, o autor do projeto de lei, o senador Cristovam Buarque (PDT), afirma que a nova interpretação do governo paulista "é uma farsa". O parlamentar ainda questiona: "como o professor vai corrigir provas, preparar aulas, em dez minutos?”. E declara o óbvio. “Esse período é para ele tomar água, ir ao banheiro."

Segundo a Secretaria de Educação de São Paulo, se não considerasse o intervalo, teria de gastar R$ 1,4 bi com novos professores. Informação controversa, uma vez que os custos adicionais do piso salarial deverão ser arcados em conjunto com a União. Agora, com a nova “adequação”, a proporção de atividades extra na rede estadual subiu de 17,5% para 31% da jornada.

Ou seja, após implementar metas, introjetar a política neoliberal e congelar o salário da categoria agora a pedagógica tucana quer acabar com o café e xixi dos professores...

sábado, 22 de novembro de 2008

Sapho



















As palavras de Safo,
fragmentadas em pedaços resistentes de papiros,
complementadas por citações em manuscritos outros,
antigos,
intercaladas de silêncios,
nos falam através de enigmas.
Formam mais de um possível pensamento.
Reservam, para nós, o preenchimento;
tornam-se outras.
Variações, como diz Brasil Fontes.
O grande barato são os espaços vazios,
onde colocamos a nós mesmos.
É ali que a poesia dança.

Enamorei-me de ti Átis.
Foi há muito:
pequena criança,
a mim
feia (a)parecias...


Ἠράμαν μὲν᾽Éγω σέθεν,
Ἄτθι, πάλαι ποτά
σμίχρα μοι πάις
ἔμμεν ' ἐφαίνεο
χἄχαρις


quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Poema ufanista revisitado

















Filhas e Filhos do Kosmos...
... e de Tupis e Áfricas sagradas,
e hermosos Portugais
nós somos.
Proliferam-se as flores
e abelhas e rosas.
De antas, e pacas, tatus;
Xavantes, Tapuias e sárx;
entre estes, todos
ocultaram-se à visualização
das "xaves" helênicas orgânicas.
E de atlântidas-sumérias e
de sulaméricas-fenícicas-floraclóricas
nos fizemos.
E com atos e efeitos serumanominais e
tão sublimes
quanto
os Átenas e Dórios,
todos tortos;
também tosaram
os cabelos de Astartês
dos sertões, e de
Diadorins e Tróias abundantes;
e Ártemis e
Deméters sagradas.
Chega a onda
que vem de longe
e geme no tempo,
e Tétis não
pode pará-lo,
impedi-lo de
levar-lhe embora
o adorado guerreiro,
Tupi de tao bugre
história.
De Ílio tão
antiga como a anta,
como yara, ou uiara,
ou aiuuiara,
sereia, sirene, Silena.
Helena, de belas luas-madeixas,
e queixas de pedidos,
com toques nos queixos tão lindos,
os toques e gestos faceiros,
nas faces sublimes quão
já, servil e sedudora Rainha,
sujeita Páris, Heitores e Aquiles,
e Menelaus na rinha.
E de estar-se sujeita
ao cio da Terra, que
a Lua, de novo,
empurra
às antigas e novas
freqüencias de
Frânciscas-Fenícicas
Guilhotínicas luzes,
declarações e
testamentos; dizem,
que a história do mundo
inda é torpe por demais,
e vil.
O resto da história
cabe ao Brasil.

Poema megalomaníaco.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Se não foi um ciclone, o que foi?

Estou em fase vazia. Trabalhando muito. Quase estressado com a escola da tarde; os jovens, claro. Por isso poucas palavras. Hoje à noite pude presenciar pela primeira vez algo parecido ao que se poderia chamar de um ciclone. As árvores vergaram até o chão. Muitas foram arrancadas pela raiz. Uma parte imensa da cidade ficou sem luz. Vários alagamentos. Postes tombaram e transformadores explodiram. Telhas voaram. Fiquei bastante impressionado.

domingo, 16 de novembro de 2008

A San Felice

















Terminei de ler "A San Felice". Gostei. Dizem ter sido considerado pelo autor como o melhor dos seus últimos dez anos de vida. Mas, no meu projeto de ler a obra completa de Dumas Pere, onde ainda estou nos primeiros passos, não tenho dúvida: "Memórias de um médico" é o mais tocante. Uma epopéia de 25 anos que antecede e finaliza no terrível ano de 1793. Acho que foi o livro que mais me tocou entre todos os que li. E olha que há, na disputa, Homero, Dostoievsky, Victor Hugo, os atenienses, o Rosa e outros menos conhecidos. Já disse aqui antes: Não sei porque adoro as tragédias.
Mas voltemos à "San Felicie". A história se dá durante os preparativos e instauração da República Partenopéia e da restauração, logo em seguida, da monarquia bourbônica no Reino das Duas Sicílias, que para quem não sabe, ocupava a ponta sul da península itálica, de Nápoles até Malta. Fernando IV, um rei medíocre, e Carolina, rainha de personalidade forte ( a verdadeira monarca), como todas as Habsburgos. Dumas faz o que se pode chamar de 'romance histórico'. O principal do enredo é histórico, mas entre os heróis, um é fictício: Salvato Palmieri. Dumas também modifica a história pessoal de Luisa San Felice para poder adequa-la ao romance com Salvato. Sua morte trágica, no entanto, foi real. É interessante como Dumas desenvolve seus romances basicamente em descrições e narrações. Há relativamente poucos diálogos. E, o que mais me chama a atenção, o pouco interesse (proposital?) no mundo interior dos heróis e heroínas. Neste livro, chega ao ponto de tornar mais interessantes os personagens secundários ou mesmo os vilões. O Rei Fernando, um completo escroque, chega a se tornar interessante. O mesmo com Maria Carolina, figura definitivamente inferior à sua irmã Maria Antonieta. Ou mesmo o Cardeal Rufo, que apesar de honesto, cometeu um desserviço à humanidade; aquela história que de boas intenções o inferno está cheio. Todos personagens nos quais o autor se detem por muitas mais vezes que em Luisa ou Salvato.
Mas termina o livro com ela. É impressionante, também, como com apenas uma frase a personagem se nos mostra inteira como é. Quando ela, já no cadafalso, se ajoelha sobre o cepo e pergunta ao medonho carrasco: _Assim está bom, assim está, senhor? Oh, por favor, não me faça sofrer! A gente se dá conta que a nossa heroína era uma moça de 23 anos, delicada e apavorada com o que lhe estava acontecendo. A forma como se dá a sua morte é terrível. Mas quem quiser saber que leia o livro.
Agora, para não deixar de lado outro projeto (a literatura francesa), estou lendo "O homem que ri", de Victor Hugo. Já nas primeiras páginas achei maravilhoso. A narração do encontro da criança com o enforcado e a visita dos corvos é extraordinária.
Ah, os livros, quase tudo que me resta!

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Ainda Alejandra Robles

Para quem ainda duvida do talento da moça.

sábado, 8 de novembro de 2008

Coração pã-americano, Alejandra Robles, ou eis gunaikás...






















Leio bem o espanhol, mas para escrever e falar sou um desastre. Ainda assim...
Esta chica es mui guaca. Y su banda tambien. Viva America!



As verdadeiras artistas e os artistas também me emocionam muito. Principalmente no nascituro. Essa moça é das grandes.
Que a Deusa a tenha!
E Deus a eles.
Tudo é por demais...

Whitman feliz

E como uma coisa concatena a outra e gosto e divulgo a boa poesia, da tradução de Geir Campos:

Democracia!
Junto a você, ao alcance da mão,
há agora uma garganta
que infla e canta com alegria.

Ma femme!
Pela ninhada nossa e além de nós,
pelos que já são daqui
e pelos que estão por vir,
eu, exultante de estar para eles pronto,
quero agora entoar mais fortes cantos
e mais soberbos que os jamais ouvidos
sobre a face da Terra.

Hei de entoar cânticos de paixão
para lhes dar passagem,
e hei de entoar cantos também a vocês,
réus à margem da lei,
pois eu os fito com olhos de parentesco
como a todos os outros.

Hei de entoar
o verdadeiro poema das riquezas,
a ganhar para o corpo e para a alma
tudo que adere e toca para a frente
e não é suprimido pela morte.

Hei de cantar o amor-próprio
e hei de mostrar que ele está na base de tudo,
hei de ser o cantor da personalidade.
Hei de mostrar macho e fêmea
como iguais um do outro,
e os órgãos genitais e os atos sexuais
que se concentrem em mim,
pois de vocês vou falar
em alto e bom som
para provar que vocês são
maravilhosos,
e hei de mostrar
que no presente não existe imperfeição
nem pode haver nenhuma no futuro,
e hei de mostrar
que coisa alguma pode acontecer
mais bonita que a morte,
e hei de tecer um fio
atravessando os meus poemas todos
e em uma coisa só
ligando o tempo e os acontecimentos,
pois que todas as coisas deste mundo
são perfeitos milagres
cada qual mais profundo.

Não vou fazer poemas referentes às partes,
mas vou fazer poemas, canções e pensamentos,
referentes ao todo,
e não hei de cantar com referência a um dia
mas com referência a todos os dias,
e não farei poema, nem parte de poema,
quie não seja de referência à alma,
porque, tendo já visto as coisas do universo,
acho que nada existe,
nem existe partícula de nada,
que não tenha uma referência à alma.


Walt Whitman, Folhas das folhas de Relva, Ediouro - 1983

Quem aprende minha lição completa?


















Embora, em minha vida cotidiana, tenha esta semana que passou sido uma como qualquer outra, sabemos que não o foi. O acontecido no EUA foi por demais significativo. Mas não vou me estender sobre a eleição de Barack. Muitos já o fizeram com emoção e beleza que não sou capaz. Eu também me emocionei e me senti feliz.
























Há algo maior por trás disso tudo, e é esse algo que me fez chorar. Chorar de regozijo. Uma emoção semelhante àquela que se sentiu após a rendição alemã em Stalingrado ou nas praias de Salamina após à histórica batalha.
Uma coisa muito boa venceu uma coisa muito ruim, apenas isso.
Haverá um mundo melhor. Juntos construiremos algo que sozinhos não o poderíamos fazer.
Parabéns ao povo norte-americano pelo passo indiscutível dado rumo à sua maturidade espiritual, e Obama é aquele que aprendeu a lição completa.
Walt Whitman, onde quer que esteja, está soltando urros de alegria.

domingo, 2 de novembro de 2008

A dança de Shiva






















Do bramanismo hindu - espero não estar sendo pleonástico - vem um tratamento da diferença que, sempre, me faz pensar no quanto estamos perdidos com o nosso pretenso e hipócrita "Todos são iguais perante a lei". A maneira como a mito poética brâmane trata as dualidades é por demais séria e sincera para não nos sentirmos envergonhados de nossa suposta superioridade civilizatória ocidental. Há muitos anos estudei um pouco do budismo tibetano, hoje já quase não me lembro mais dos conceitos, dos diversos mitos, da gênese cosmogônica. Mas ficaram lembranças impregnadas nas cadeias do DNA; foi uma época muito louca de minha vida.
Caiu-me à mão um livro de poesias de Décio Pignatari, 31 poetas 214 poemas, que traz uma antologia de poemas de épocas distintas, começando com os "hinos do Rigveda (séc. XVI a.C.)" e os "poetas-santos de Xiva (séc. XI a.C.)" de onde trago esta pérola de simplicidade:

Poetas-santos de Xiva

DASIMAIA

1-

A esse mistério
(que traz a si mesmo dentro)

Indiferente a diferenças

Rezo, Senhor.

2-

Com corpo
a gente tem fome

Com corpo
a gente mente

Não zombe
não censure
de novo
por eu ter um corpo

Tenha um corpo
você mesmo
uma vez
como eu
e veja o que acontece

Ó Senhor.

3-

Se eles veem
seios e cabelos compridos
dizem que é mulher

se barba e costeletas
é homem

o suspenso
entre ambos
que é?

Ó Senhor.



Se alguém responder à pergunta com:
_ É um tremendo de um Travesti.
é porque é incapaz de se colocar em outro tempo-espaço e perceber a sutileza da pergunta proposição. Tobias costumava dizer que, para se chegar a um equilíbrio, o indivíduo macho deveria se mostrar 51% masculino e 49% feminino e a fêmea o contrário evidentemente.

O mundo precisa deixar de ser governado por machos 99% masculinos. Paredes de insensibilidade.

Provérbios gregos