domingo, 16 de novembro de 2008

A San Felice

















Terminei de ler "A San Felice". Gostei. Dizem ter sido considerado pelo autor como o melhor dos seus últimos dez anos de vida. Mas, no meu projeto de ler a obra completa de Dumas Pere, onde ainda estou nos primeiros passos, não tenho dúvida: "Memórias de um médico" é o mais tocante. Uma epopéia de 25 anos que antecede e finaliza no terrível ano de 1793. Acho que foi o livro que mais me tocou entre todos os que li. E olha que há, na disputa, Homero, Dostoievsky, Victor Hugo, os atenienses, o Rosa e outros menos conhecidos. Já disse aqui antes: Não sei porque adoro as tragédias.
Mas voltemos à "San Felicie". A história se dá durante os preparativos e instauração da República Partenopéia e da restauração, logo em seguida, da monarquia bourbônica no Reino das Duas Sicílias, que para quem não sabe, ocupava a ponta sul da península itálica, de Nápoles até Malta. Fernando IV, um rei medíocre, e Carolina, rainha de personalidade forte ( a verdadeira monarca), como todas as Habsburgos. Dumas faz o que se pode chamar de 'romance histórico'. O principal do enredo é histórico, mas entre os heróis, um é fictício: Salvato Palmieri. Dumas também modifica a história pessoal de Luisa San Felice para poder adequa-la ao romance com Salvato. Sua morte trágica, no entanto, foi real. É interessante como Dumas desenvolve seus romances basicamente em descrições e narrações. Há relativamente poucos diálogos. E, o que mais me chama a atenção, o pouco interesse (proposital?) no mundo interior dos heróis e heroínas. Neste livro, chega ao ponto de tornar mais interessantes os personagens secundários ou mesmo os vilões. O Rei Fernando, um completo escroque, chega a se tornar interessante. O mesmo com Maria Carolina, figura definitivamente inferior à sua irmã Maria Antonieta. Ou mesmo o Cardeal Rufo, que apesar de honesto, cometeu um desserviço à humanidade; aquela história que de boas intenções o inferno está cheio. Todos personagens nos quais o autor se detem por muitas mais vezes que em Luisa ou Salvato.
Mas termina o livro com ela. É impressionante, também, como com apenas uma frase a personagem se nos mostra inteira como é. Quando ela, já no cadafalso, se ajoelha sobre o cepo e pergunta ao medonho carrasco: _Assim está bom, assim está, senhor? Oh, por favor, não me faça sofrer! A gente se dá conta que a nossa heroína era uma moça de 23 anos, delicada e apavorada com o que lhe estava acontecendo. A forma como se dá a sua morte é terrível. Mas quem quiser saber que leia o livro.
Agora, para não deixar de lado outro projeto (a literatura francesa), estou lendo "O homem que ri", de Victor Hugo. Já nas primeiras páginas achei maravilhoso. A narração do encontro da criança com o enforcado e a visita dos corvos é extraordinária.
Ah, os livros, quase tudo que me resta!

2 comentários:

  1. Que bom que tens a companhia dos bons livros, e sensibilidade para amá-los, o que é o mais importante. fique bem.

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Provérbios gregos