Ontem à noite assisti na tv (agora vejo tv) uma matéria sobre a educação no Brasil. Entre outras coisas vi uma velha professora amada pelas ex-alunas dizer que, hoje, o professor se preocupa mais em como vai fazer para deslocar de uma escola para outra do que com o que está fazendo ali com os alunos. Verdade. Outro dado interessante (que combina bem com o primeiro) é o salário de um professor na Coréia do Sul: R$ 10.500,00. Eu, como disse no post anterior, tenho que trabalhar 55 horas na semana, em três turnos, para ganhar 3.500. E não é só isso. Na escola da tarde não tenho sala ambiente. Tenho que ficar cada dia em uma sala diferente. Na metade delas, a minha mesa está quebrada. Somente hoje (espero) vou ter um armário meu. Na escola da noite tem sala de artes. Acontece que a professora do turno da manhã, que tem 27.000 anos de magistério, se apropriou dela. Encheu a sala de armários que alega serem dela e que, por causa disso e da grande movimentação dos professores do noturno (estou lá já há quase dois anos), não poderia me ceder espaço para colocar um armário meu. Ela não apenas tem cinco armários (daqueles grandes, de aço e de duas portas), como utiliza todos os espaços que existem embaixo das duas bancadas de alvenaria laterais. Em outras palavras, transformou o que é público em privado. Como é bastante comum no Brasil, por sinal. Além disso, as salas são pequenas, as cadeiras e mesas dos alunos são horrorosas e, em sua maioria, danificadas. As paredes, mesmo não estando pixadas, são feias e tristes em ambas as escolas. Material para eu trabalhar na escola da tarde não tem. O negócio é papel sulfite e uns lápis de cores que é melhor nem falar sobre isso. Na escola da noite, o diretor, às vezes, compra o que eu peço. Mas há outro problema lá: o vice-diretor do turno da manhã também resolveu se apropriar do público. Não deixa ninguém utilizar os computadores. Pelo menos como se precisa. Explico. Tenho um material de história da arte excelente que consiste em dez cd-roms. Precisa de ser instalado no micro para rodar um programinha que passa slides de imagens de arte de todos os tempos, enquanto uma locutora faz comentários, juntamente com quadros de biografias e as respectivas linhas do tempo. É um material muito bom e, lá na escola (por incrível que pareça), já temos um data-show. Acontece que o equipamento, que está lá desde fevereiro, ainda não foi utilizado porque o tal vice-diretor não atualizou os micros o necessário para a tarefa de conectá-los ao aparelho de projeção. Apesar das dezenas de bilhetes que lhe escrevi pedindo para resolver o problema. Não resolveu e não me autoriza a fazê-lo. Desisti.
Nesta mesma escola do noturno, no primeiro semestre, muitas foram as noites em que me deitei pensando em como iria dar cabo de um determinado aluno, se é que se pode chamar aquilo de aluno. Ameaçou todos os professores e eu já estava quase decidido a matá-lo. Em legítima defesa é claro. Para isto estava bolando um plano. Até que a direção-cagão resolveu começar a dar umas suspensões. Aí a coisa melhorou um pouco. Os bandidos amansaram. Pelo menos o suficiente para eu dormir sem ter que pensar em assassinatos.
Lá na outra escola, no segundo dia de aula, precisei pedir a uma aluna para me deixar dar a aula. Foi o suficiente para ela me avisar que se eu pegasse no pé dela, ela iria 'dar um jeito' para eu ser mandado embora da escola. Pode?
Em ambas as escolas, há jovens e adolescentes, que conhecem o melECA o suficiente para fazerem o que bem entendem sem que com isso sofram quaisquer impedimentos. Na sexta passada fomos convidados pela representante da secretaria de educação a resolver os casos de dupla repetência de qualquer jeito. Isto é, os imprestáveis para o estudo (porque eles existem) têm de ser subjugados custe o que custar. Temos que fazer algum tipo de milagre para obrigar quem não gosta de estudar a fazê-lo. Se alguém tiver alguma sugestão que me avise, pode deixar um comentário aqui no blog. E tem que ser uma sugestão que não me obrigue a ficar pensando em assassinatos durantes as noites de insônia.
Aí eu me pergunto: vale a pena ser professor? e eu mesmo respondo: Não!
Aí me pergunto de novo: O que posso fazer se sou pobre, estou com 43 anos, não tenho vocação para o comércio e não consigo passar em concursos do judiciário? e isto ainda bem, detesto juízes e advogados.
Entre outros problemas e quase nenhuma solução, será que há esperança?
KKKKKKKKKKKKKKK
ResponderExcluir27,000 anos de magistério foi o máximo .. rsrs
eu também suo professor e sei o quanto as ciosas são, e as vezes mostram-s incrivelmente mais complicadas" rsrsrs
está nos meus blogs relacionais agora !
Ótimo texto, guri
É isso aí, amigo. Educação tá foda!
ResponderExcluirDeixa o endereço de teu blog, se tiver algum.
Abraço.
Josaphat que triste...
ResponderExcluirMas não concordo com uma coisa: tu é jovem, 45 anos é pouco mais que uma criança :):):)
Olha, há uma escola aqui em São Paulo que pratica a pedagogia Waldorf. Cada aluno paga de mensalidade o salário de um professor. Que é alto. O professor tem acesso livre às residências dos alunos, interage com as famílias, janta na casa dos alunos. Na classe, há crianças de várias idades, as mais velhas assistem aulas com as menores no colo, é lindo.
Coisa de alemães...
Sabem, tudo isso se está tornando (ou já se tornou há muito) por demasiado surreal, a educação.
ResponderExcluirMas apesar de minhas queixas, uma coisa boa é o exercício da compaixão.