sexta-feira, 24 de abril de 2009

À América e ao Brasil























8.
Veja o carrasco europeu de pé
com sua máscara, vestido de vermelho,
grossas pernas e fortes braços nus,
apoiando-se a um pesado machado.

(A quem você decapitou ultimamente ,
ó carrasco europeu?
De quem é esse sangue em cima de você
tão agarrado e úmido?)

Vejo os claros crepúsculos dos mártires,
os fantasmas que descem dos patíbulos
_ fantasmas de mortos aristocratas,
damas descoroadas, reis depostos,
ministros afastados, traidores,
rivais, envenenadores,
chefetes que caíram em desgraça
e outros mais.

Eu vejo aqueles que em qualquer país
têm dado a vida pela boa causa:
reduzida semente, e ainda assim
a plantação não tem fim.
(Lembrem-se, ó reis de longe, ó sacerdotes:
a plantação não tem fim.)

Vejo o sangue do machado completamente lavado,
o cabo e a lâmina igualmente limpos:
já não derramam o sangue de fidalgos europeus,
já não cortam pescoços de rainhas.
Vejo o carrasco saindo de cena,
perdendo a serventia;
vejo o patíbulo deserto e embolorado
e em cima dele não vejo machado mais,
vejo o potente e amistoso emblema da minha raça
_ a maior delas, a mais nova raça.

(Walt Whitman, folhas das folhas da relva, seleção e tradução de Geir Campos, Ediouro, 1983)

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