quarta-feira, 4 de junho de 2008

Sonho e pesadelo de alguns


Alguns personagens de nossa mídia aqui em Pindorama estão vivendo um sonho de conto de fadas. Ou será um pesadelo com monstros e bruxas? Insistem em pensar que por meio de sua ferramenta de trabalho - os meios de comunicação - serão capazes de reverter um fenômeno que anda bem evidente por aqui, mas que é de âmbito planetário. Insistem também em pensar que, como há vinte ou mais anos atrás, influenciando a opinião de uma parte da classe média, influenciarão, por conseguinte, o povão, a grande massa de pessoas das classes menos favorecidas. Ainda agora, após ter almoçado em um restaurante próximo aqui de casa, folheando um jornal aqui de Minas, o mais tradicional, senti um misto de raiva e desejo de rir. Na primeira página, em letras grandes e de impacto, se lia:

ESTRELA DO BRASIL BRILHA EM ROMA

À manchete seguia-se logo abaixo:

"No discurso mais aplaudido durante a conferência da FAO, em Roma, Lula ataca lobby do petróleo, defende álcool brasileiro e condena etanol feito de milho. Etanol é como colesterol: há o bom e o mau. O bom ajuda a despoluir o planeta e é competitivo. O mau depende das gorduras dos subsídios. Ele apontou o protecionismo agrícola dos países ricos e a especulação com o preço do petróleo, que faz subir os custos dos fretes, como os principais culpados da alta mundial dos preços dos alimentos."

E ainda abaixo, mais esta:

"Muitos dos dedos apontados contra a energia limpa dos biocombustíveis estão sujos de óleo e de carvão" Presidente Lula

Em seguida, procurando pela matéria completa, me deparo com outra em que um jornalista, que não me identifiquei o nome, dizia coisas mais ou menos assim:

"Não é possível se compreender como este Presidente consegue, a cada pesquisa, aumentar sua popularidade ( a respeito de uma pesquisa recente que desconheço ) quando o país está mergulhado no mais profundo caos de sua história. Aqueles, que como eu, se lembram de saudosos tempos em que o povo não sofria os horrores da miséria de hoje, não podem compreender e aceitar esta situação. "

Não foram exatamente estas palavras, mas em seguida pergunta:

"Até quando vamos ter que conviver com isso? Até quando o povo será enganado por esse cidadão e por esse governo? Até quando isto, até quando aquilo? "

E por aí vai.

Então, voltando ao fenômeno a que me referi acima. Como é algo do momento, do agora (onde se conjuga o verbo no durativo presente), é de difícil definição, diagnóstico e análise, mesmo porque nesta última sou horroroso e bastante incompetente. No entanto, tenho suficiente confiança em minha intuição, para defini-lo, o fenômeno, em alguma coisa como "Uma aceleração da conscientização coletiva planetária", ou "Uma explicitação/desvelação dos fatos, dos atos, dos acontecimentos, das intenções, das consequências e do que se realmente deseja para nós e nossos descendentes". Evidentemente que se trata de uma intuição a respeito.

Senti raiva da matéria porque estou convencido que não se trata apenas de alienação ou de que o cidadão jornalista que a escreveu está vivendo em uma bolha, ou em uma espécie de torre de marfim. Estou certo que ele, quando se diz alarmado com a miséria do povo, não participa e não se identifica com essa mesma miséria. Estou certo, também, que essas suas opiniões, que publica no jornal de maior circulação do estado, no primeiro caderno, não são para ajudar este mesmo povo. Estou certo, também, que ele mente descadaradamente. Estou certo, também, que ele faz isto com o inconsciente, o subconsciente e, principalmente, com toda a sua consciência. E, por fim, estou certo também, que ele está sendo muito bem pago para isto.

Por fim, me desinteressei de continuar lendo a matéria (quem quiser está no Estado de Minas de hoje, 04.06.2008, no primeiro caderno, disponível online só para assinantes, não sei o título) porque era muita bobagem junta e, quando me dei conta da loucura do sujeito, da sua ilusão, da sua perda de tempo (apesar de muitos sentirem perigo na influência da mídia no destino imediato do país), da sua derrota antecipada e da macaquice que é inventar tanta besteira, depositei o jornal de volta na mesa em se encontrava, e sai rindo sozinho.

Uma última palavrinha: O governo Lula não fez absolutamente nada que melhorasse objetivamente a minha vida.

4 comentários:

  1. Olá... sou brasileira mas vivo em Portugal... votei no Lula na 1ª eleição, e em seguida emigrei...

    Daqui sinto isso mesmo... enquanto na mídia só vemos péssimas notícias, as pessoas só falam bem...

    Como é óbvio, se a vida do povo está melhorando isso afeta negativamente as elites que possuem as mídias, e que sempre ganharam com a miséria, da qual o jornalista ouviu falar...

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  2. Josaphat,

    como diria o Millôr, no Brasil a "opinião pública é a opinião que se publica" - ao menos é como a mídia se entende. É uma loucura o quanto ela se endeusa, enquanto transformadora, conscientizadora, fiscalizadora (ela tem um fetiche por se chamar de quarto poder), etc. Não sei se v. já viu uma propaganda na TV da rádio CBN em que a Lúcia Hippólito sobe nuns caixotes no meio da rua e começa a discursar para os populares (leia-se, ignorantes, na visão do comercial), dizendo que eles devem lutar pelos seus direitos, etc etc. É assim que a mídia se vê. Arauta da emancipação e da democracia. Ótimo post. Abraço

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  3. Josaphat: retomando o dialógo interrompido, achei outra interessante contraposição entre mater e pater: Wisnik, em Veneno Remédio, coloca o futebol como conjunção da bola, esférica, telúrica, total (mas dotada de vida e, por isso, sempre prestes a escapar), materna, com o campo, quadrado, ordenado, agonístico, paterno. Abraço.

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  4. Sem dúvida Alexandre, é um sonho de grandeza desta mídia/elite. Mas estão bem próximos de cair do cavalo. Hoje escutei no rádio que, se a população da terra se comportar em termos de consumo e gasto de energia, como se comporta a elite brasileira, precisaríamos de três planetas para nos suprir. E o pior é que, querendo ou não, influenciam o povo. Quanto à história do futebol, é uma sacada muito legal. Me veio ainda a idéia de que o campo, cultural, masculino, é uma apropriação do campo, natural, feminino, da terra mesmo. E há os jogadores.
    A bola e a chuteira são substantivos femininos e Didi, diz-se, nunca pisava com uma sobre a outra.
    Muito bem vindo teu comentário.
    Abraço.

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Provérbios gregos