sexta-feira, 21 de março de 2008

Memórias de um médico 3 - A princesa de Lamballe

Vou ter de gastar muitas postagens para me desembaraçar deste livro. Então, peço aos que por acaso dêem por estas bandas, que tenham um pouco de paciência, que não desistam de acessá-lo se o assunto não os interessar, que o blog não é só sobre literatura, ou mesmo somente sobre Alexandre Dumas ou "Memórias de um médico".

Estou apenas ajudando a tampar um buraco. Há muito pouca coisa sobre ele na internet ou em qualquer lugar. Das pessoas que conheço, só minha mãe o leu, e ainda assim há mais de 60 anos. É preciso que se contribua com sua divulgação, aliás que é para isto que serve este blog e outros: fazer com que circulem as histórias. Principalmente, no meu caso, as que poucos conhecem.

A princesa de Lamballe, ou Marie Thérèse Louise de Savoy-Carignan, foi uma personagem da revolução francesa. Sua participação, tanto na História quanto na trama do livro, foi pequena, limita-se quase à sua morte. Mas que morte! Digamos que, se Maria Antonieta, a condessa DuBarry, a princesa Elizabete ou Madame Roland morreram por interesses políticos, racionais; Lamballe foi morta em circunstâncias caóticas, fruto daquele ódio insano que irrompe como um vagalhão dos corações das turbas sedentas de sangue, alucinadas. Mas, por mais que estivesse desesperado o povo e sequioso de vingança por tão longos séculos de exploração e miséria, não era ele capaz de tão vil baixeza.

Conta-se que, durante aqueles primeiros dias de setembro de 1792, que tão caro custaram à aristocracia, não foram mais de cento e cinquenta os facínoras e desalmados que cometeram os bárbaros crimes que horrorizaram a europa e mancharam a infante bandeira de liberdade e igualdade que trazia a revolução. Sinistras pessoas aquelas, saídas de algum buraco da terra, de algum portal que direto do inferno vinha. Somente os mestres e adeptos poderiam explicá-los.

Sobre Lamballe, sua mais triste vítima, não posso dizer mais que este simples poema, que só tem a pretensão de fazer uma homenagem a tão desgraçada mulher. Há tanta poesia sobre Andrômaca, Antígona ou Inês de Castro, mas sobre Marie Thérèse Louise, nada achei. Talvez que a poesia seja o muito ou pouco que se diga sobre estas mortes emblemáticas, que não são mais que o fruto do desequilíbrio masculino/feminino. Entre as corjas de assassinos que circulavam naqueles dias por Paris, nada incomadava e despertava a fúria do que qualquer coisa que fosse mais: Riqueza, saúde, sabedoria ou beleza. Todas estas mulheres morreram por simplesmente amar. Isto, a energia masculina desfigurada por milênios de patriarcalismo não pode perdoar. Martirizar vem do grego μαρτυρεω (leia-se marturêo) que quer dizer 'dar o testemunho'. Lamballe, entre muitas mártires, conhecidas e desconhecidas, testemunhou.

Singelo poema à Lamballe

Tu, senhora,
que só sabias
de belezas e de amores.
De amor fraterno,
minha amiga de rainhas,
de princesas.
Por amor de uma
maior do que tu,
voltastes.
Sabendo, talvez,
do sacrifício,
do martírio?
Tu, que era só meiguice,
pureza e encanto!?
Oh digna princesa,
que espírito profundo
abrigavas?
Tu, que por
três semanas
calculastes o fim,
sonhastes que haverias
de aplacar o ódio
da multidão,
sem que em ti
houvesse forças para isto?
Tu, que nem Cassandra,
Efigênia ou Polixena
podem justificar...
Diferente delas,
violada fostes e
destes o corpo
à desonra.
Mas, que esta tua linda
imagem de criança,
nos fique, ainda
mais do que a da morte,
na lembrança.

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