
Estou apenas ajudando a tampar um buraco. Há muito pouca coisa sobre ele na internet ou em qualquer lugar. Das pessoas que conheço, só minha mãe o leu, e ainda assim há mais de 60 anos. É preciso que se contribua com sua divulgação, aliás que é para isto que serve este blog e outros: fazer com que circulem as histórias. Principalmente, no meu caso, as que poucos conhecem.
A princesa de Lamballe, ou Marie Thérèse Louise de Savoy-Carignan, foi uma personagem da revolução francesa. Sua participação, tanto na História quanto na trama do livro, foi pequena, limita-se quase à sua morte. Mas que morte! Digamos que, se Maria Antonieta, a condessa DuBarry, a princesa Elizabete ou Madame Roland morreram por interesses políticos, racionais; Lamballe foi morta em circunstâncias caóticas, fruto daquele ódio insano que irrompe como um vagalhão dos corações das turbas sedentas de sangue, alucinadas. Mas, por mais que estivesse desesperado o povo e sequioso de vingança por tão longos séculos de exploração e miséria, não era ele capaz de tão vil baixeza.
Conta-se que, durante aqueles primeiros dias de setembro de 1792, que tão caro custaram à aristocracia, não foram mais de cento e cinquenta os facínoras e desalmados que cometeram os bárbaros crimes que horrorizaram a europa e mancharam a infante bandeira de liberdade e igualdade que trazia a revolução. Sinistras pessoas aquelas, saídas de algum buraco da terra, de algum portal que direto do inferno vinha. Somente os mestres e adeptos poderiam explicá-los.
Sobre Lamballe, sua mais triste vítima, não posso dizer mais que este simples poema, que só tem a pretensão de fazer uma homenagem a tão desgraçada mulher. Há tanta poesia sobre Andrômaca, Antígona ou Inês de Castro, mas sobre Marie Thérèse Louise, nada achei. Talvez que a poesia seja o muito ou pouco que se diga sobre estas mortes emblemáticas, que não são mais que o fruto do desequilíbrio masculino/feminino. Entre as corjas de assassinos que circulavam naqueles dias por Paris, nada incomadava e despertava a fúria do que qualquer coisa que fosse mais: Riqueza, saúde, sabedoria ou beleza. Todas estas mulheres morreram por simplesmente amar. Isto, a energia masculina desfigurada por milênios de patriarcalismo não pode perdoar. Martirizar vem do grego μαρτυρεω (leia-se marturêo) que quer dizer 'dar o testemunho'. Lamballe, entre muitas mártires, conhecidas e desconhecidas, testemunhou.
Singelo poema à Lamballe
Tu, senhora,
que só sabias
de belezas e de amores.
De amor fraterno,
minha amiga de rainhas,
de princesas.
Por amor de uma
maior do que tu,
voltastes.
Sabendo, talvez,
do sacrifício,
do martírio?
Tu, que era só meiguice,
pureza e encanto!?
Oh digna princesa,
que espírito profundo
abrigavas?
Tu, que por
três semanas
calculastes o fim,
sonhastes que haverias
de aplacar o ódio
da multidão,
sem que em ti
houvesse forças para isto?
Tu, que nem Cassandra,
Efigênia ou Polixena
podem justificar...
Diferente delas,
violada fostes e
destes o corpo
à desonra.
Mas, que esta tua linda
imagem de criança,
nos fique, ainda
mais do que a da morte,
na lembrança.
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