quinta-feira, 20 de março de 2008

memórias de um médico 2 - José Bálsamo























Saint Germain e Cagliostro


Como havia dito, preciso escrever algo sobre este fabuloso livro. Há, em toda a trama, um personagem enigmático: Cagliostro ou José Bálsamo. Está entre os personagens históricos, isto é, existiu de fato. Andei pesquisando sobre ele na internet. Desde já, sabia que o que iria encontrar era apenas a ponta do iceberg. Mago, iniciado, charlatão, dizia que tinha mais de 3000 anos de idade. No livro, este personagem envolve-se com todos os outros principais: Maria Antonieta, Gilberto, Andréia, Du Barry, Pitou e Billot, Rohan e a Condessa de Lamotte e, com estes, trama o famoso caso do colar, que tão caro custou à Rainha e à realeza. Dumas escreveu um romance histórico. Alguns personagens são inventados (talvez inspirados em pessoas reais), outros, como Cagliostro, são verdadeiro, como se já disse. No entanto, Dumas recria a história, construindo acontecimentos que, certamente, não ocorreram tal qual nos conta.
O caso de Cagliostro faz parte destes acontecimentos. É um personagem envolto em brumas, mistérios. É fato histórico que participou da intriga do colar, mas a maneira como Dumas nos conta como isto se deu é que é difícil de saber se é verdade. Mas não importa. O que me intriga são dois relacionamentos fundamentais na vida do mago: Lorenza Feliciana e o Conde de Saint Germain. Lorenza foi uma jovem romana que tomou como esposa em 1768. É bem provável que, nesta época, estive ele envolvido mesmo com os bandidos. Em muitos sites que visitei diz-se desse seu envolvimento com salteadores. No livro de Dumas este período coincide com o encontro com Lorenza. É quase certo, também, que influenciada por membros da inquisição italiana e movida por suas próprias crenças pessoais, tenha Lorenza rompido relações com Cagliostro que, então, ainda era José Bálsamo, em italiano, Giuseppe Balsamo. No livro, nunca teria havido amor da parte de Lorenza, a não ser quando esta se encontrava sob efeito do transe que o marido lhe provocava. Na história (vou sempre utilizar este termo, a partir de agora, para me referir ao material que encontrei na internet e que procurei peneirar na medida do possível) há versões diferentes quanto ao relacionamento do casal. Uns dizem que partilhavam uma relação de interesses, onde Lorenza era utilizada por Bálsamo para atrair homens de poder e riqueza, uma espécie de esposa/prostituta. Diz-se também que foi ela quem lhe sugeriu o título de Conde de Cagliostro e que o casal se devia lançar em empreendimentos mais ousados e ambiciosos do que os pequenos crimes que estavam acostumados a cometer. Inclusive assassinatos. No livro, nem de longe Lorenza seria uma tratante ou criminosa. Em quase todas as versões que encontrei, Lorenza teria morrido por volta de 1774. Coincide com a trama (vou utilizar este termo para o livro), embora a história não esclareça em quais circunstância. Na trama, Lorenza é morta por Althotas. Na história, este personagem teria morrido em Malta, anos antes. Uns falam, até, que teria sido morto por Bálsamo. O mistério em torno de Lorenza é grande. Na trama, possui duas caras. Uma, a da vigília, que odeia Bálsamo; a outra, do sonho, do transe em que ele a coloca, que o ama de adoração. Esta dualidade o intriga e enlouquece. Este amor que a donzela lhe nutre é que faz com que Bálsamo desista de utilizá-la como oráculo e a tome efetivamente como mulher. O oráculo tinha que ser virgem.
Na história, para complicar, aparece a personagem de Serafina Feliciana. Quem será esta? Uns dizem que era a irmã mais nova de Lorenza. Outros dizem que era a própria Lorenza, que, juntamente com a mudança de nome de Bálsamo para Cagliostro, mudou também de nome. Seriam as duas caras de Lorenza, que Dumas nos oferece, Lorenza e Serafina? Teria Lorenza sido ressuscitada por Bálsamo, como parecia fazer a si próprio? Teria ela, Lorenza, sido mesmo encarcerada em um convento na itália? Seria ela a condessa de LaMotte ou a menina Nicola, que se parecia com a rainha e que, tendo sido oferecida ao Cardeal de Rohan como se esta fosse, foi parte importante na intriga do colar? Mistérios meus amigos e minhas amigas...
Ainda para complicar um pouco mais há a figura de Saint Germain. Há muito sobre ele na internet. Personagem ainda mais misterioso que Cagliostro que parece ter sido seu discípulo. Seria Saint Germain inúmeras figuras importantes da História, como José, pai de Jesus, Merlin, Cristóvão Colombo, Shakespeare e Francis Bacon. É um adepto ou iluminado. Bodhisatwa da raça, sucessor de Jeshua, o cristo. Há quem diga que nasceu em Portugal. Talvez seja alguém que tenha muitos nascimentos. E que tenha consciência deles. Mas não quero me deter muito sobre Saint Germain ou Adamus. No livro, na trama, ele não aparece. Ou apenas uma vez em palavras de Cagliostro: _Eu e o Conde de Saint Germain somos os únicos que não morremos! num diálogo com Gilberto. Diz-se que, chegando à França, à época da Revolução, vinha saber "que intrigas urdia contra o trono o discípulo dos infernos, Cagliostro" Saint Germain era amigo da corte. Tentou convencer a rainha e outras cortesãs famosas como a Princesa de Lamballe, dos perigos que estavam correndo, que os tempos estavam mudando. Não foi ouvido. Fala-se também que tinha Saint Germain (ou ainda tem) uma atração irresistível para as mulheres e que tinha uma esposa chamada Lorenza. Isto mesmo, Lorenza. Percebem a confusão queridas leitoras? Falam de um encontro de Cagliostro e Serafina com Saint Germain e Lorenza em França, Londres ou Portugal. Seriam os dois casais dicotômicos? Saint Germain o bem e Cagliostro a contraparte do mal? Na trama, Bálsamo era bom e mau. Não me parece que odiasse a realeza. Mais amava a era de liberdade que se aproximava e que ajudou a criar. Foi a um preço alto criada a era da liberdade e ainda não está de todo resolvida. A revolução Francesa, linha mestra da trama, trouxe o ideal de liberdade, os movimentos socialistas do século XIX o de igualdade. E a fraternidade? Esta talvez esteja se manifestando agora, como em espaços como este. Nos fóruns, nos blogs, espaços virtuais de convivência unindo os povos. Cagliostro, Saint Germain, Lorenza, Serafina são mistérios que talvez nunca decifremos. No entanto, há mistérios maiores. Que se dirá dos bilhões e bilhões de seres humanos que nascem e morrem neste mundo sem que ninguém saiba ou se lembre? Houve um mestre, que também poucos conhecem, o Professor Henrique José, que dizia algo assim: A história do mundo, com o seu infindável mar de lágrimas, muito me entristece; mas o que mais me entristece e subjuga é aquele mistério que jamais conhecerei.

Outro dia falarei sobre Andréia de Taverney, por quem, também eu, me apaixonei.

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