Os que acompanham este blog há mais tempo sabem de meu fascínio por momentos dramáticos da humanidade. Desde a lendária divisão dos sexos ocorrida na não menos lendária Lemúria, passando pelas progressivas destruições do continente atlante, até a nossa civilização. Aí, a revolução patriarcal do neolítico; as guerras entre os primeiros impérios; os gregos e suas Tróias e Termópilas; Roma e o advento do Cristo; as invasões bárbaras e o questionável silêncio medieval; a lenta agonia de Constantinopla e o golpe de misericórdia de Maomé II; as navegações; as Américas; a revolução francesa e as grandes guerras mundiais. Não falemos de hoje, que está tão perto que minhas vistas cansadas não conseguem ver. De todas, a que mais atrai é, sem dúvida, a revolução francesa. Apesar de parecer tolice, tenho simpatias pela aristocracia e, em especial, pela figura de Maria Antonieta. Muito me espanta a imaginação o contraste entre o luxo indizível de Versailles e o quartinho de 16 m2 da Conciergerie que ela ocupou em seus dois últimos meses de vida. Das filhas de Maria Teresa, também Marias, duas pode-se dizer que se destacaram na história. Mª Antonieta e Mª Carolina. A primeira foi rainha de França, a segunda do reino das Duas Sicílias. Após tanta leitura sobre essa época da história (leitura certamente ainda muito superficial), guardo de Mª Antonieta a imagem de uma mulher frívola que não soube perceber a revolução. Em seu pequeno mundo do Petit Trianon não via que havia ao seu redor um mundo em ebulição. Aqueles vinte últimos anos do século XVIII foram um daqueles grandes momentos dramáticos da história do mundo a que me referi. E Mª Antonieta não o viu; pelo menos até à fatídica noite de 5 para 6 de outubro de 89, quando uma turba de mulheres, instigadas por Marat (só podia) invadem Versailles e, por muito pouco, não foi ali mesmo que Antonieta deu adeus ao mundo. Desde então, durante os quatro seguintes anos, a rainha vai lentamente decaindo e a heroína (sim, ela sabia o que lhe estava reservado) aparecendo. As filhas de Mª Teresa eram mulheres fortes, como ela. Dadas à voluptuosidade, apreciavam os prazeres amorosos e, parece, nutriam carinhos especiais às suas favoritas. Grandes parideiras; Carolina teve dezoito filhos, Antonieta quatro. E só não os teve mais que a morte não lho permitiu. Carolina lutou com mais argúcia pela coroa e pela cabeça. A morte da irmã já lhe havia avisado do perigo. Carolina não teve demasiadas dúvidas quando teve que fazer rolar cabeças para preservar a sua. Antonieta não me parece ter sido uma mulher capaz de decretar a morte de alguém. Muito embora um colar de brilhantes podia mesmo alimentar muitas pessoas. Confortos de Rainha.
Fico pensando que, se aquele seu último ano e meio de vida fosse colocado na balança, em relação aos anos de Rainha ainda no poder, a balança se equilibraria.
Carolina preservou a coroa e a cabeça.
No 16 de outubro de 1793, Mª Antonieta foi guilhotinada e seu corpo enterrado, junto com a cabeça, em uma cova comum.
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