O arcebispo de Olinda e Recife, o tal Dom José Cardoso, que excomungou a criança de nove anos que abortou os gêmeos frutos do estupro do padrasto, não é uma aberração da igreja. Se dermos uma vista d'olhos no passado dessa instituição, o sr. José vai parecer apenas um menino pirracento.
Eu já disse isso aqui inúmeras vezes. Detesto as igrejas e as religiões de matriz no antigo testamento da bíblia. A igreja de Roma, esta então, deve provocar a inveja nas almas dos grandes genocidas da história, como Gengis Kã e Hitler, lá no Hades onde se encontram.
Aproveitando o triste fato e juntando à ele outro triste - este mais que triste, pavoroso - acontecimento, vamos lembrar uma mulher extraordinária e seu trágico trespasse. Não conhecia sua história, mas a
Rosa sim.
Hipácia ou Hipátia de Alexandria foi o último grande gênio do paganismo. Os santos da ascendente igreja de Roma se encarregaram de calá-la. Eles não podiam, é claro, permitir tanta luz em um mundo que queriam bem mais escuro.
Hipácia foi uma filósofa e matemática neoplatônica que viveu entre o fim do séc. IV e começo do V d.c.
Intransigente em sua defesa da liberdade de pensar, tornou-se objeto do ódio dos santos da igreja, notadamente o patriarca de Alexandria, um tal de Cirilo, que foi o responsável pelo seu assassinato e por outra grande façanha: a destruição da biblioteca da cidade, a maior e mais famosa da antiguidade. Por causa disto, hoje só dispomos de sete peças das dezenas que escreveu Ésquilo. Pensemos em todos os livros perdidos. Esse monstro ajudou no preparo do mundo para as trevas do reinado da igreja no período medieval. Mais tarde seria santificado.
Hipácia, a quem todos os cientistas da época recorriam quando diante de um problema insolúvel foi, diz-se, a inventora de aparelhos como o astrolábio, o planisfério e o hidrômetro. Ocupando na cultural cidade a cátedra do célebre Plotino, lecionava sobre o mesmo e sobre Platão, sendo admirada pela modéstia e inteligência.
Deixemos falar outro gênio perseguido: madame Blavatsky:
“... Hipatia ensinava as doutrinas do divino Platão e Plotino, dificultando com isso o proselitismo cristão, pois descobria o fundamento dos mistérios religiosos engendrados pelos Padres da Igreja e declarava a origem platônica do idealismo do qual a nova religião se havia apropriado para seduzir um grande número de pessoas. Além disso, Hipatia era discípula de Plutarco, chefe da escola ateniense, e conhecia os segredos da teurgia; portanto, seus ensinamentos eram um gravíssimo obstáculo para a crença popular nos milagres, cuja causa a insígne mestra podia explicar satisfatoriamente. Não é de estranhar que sua sabedoria e eloquência conclamassem contra ela a animosidade de Cirilo, bispo de Alexandria, cuja autoridade se apoiava em degradantes superstições, enquanto que a de Hipatia tinha por fundamento a inamovível rocha das leis naturais.”
Assim, em março do ano 415, Hipatia foi assassinada, fato que nos relata o historiador cristão do século V, Sócrates, o escolástico:
“Todos os homens a reverenciavam e admiravam pela singular modéstia de sua mente. Motivo pelo qual havia grande rancor e inveja contra ela, e porque amiúde conversava com Orestes e se contava entre seus familiares, as pessoas a acusaram de ser a causa por que Orestes e o bispo não se tornaram amigos. Para dizê-lo em poucas palavras, alguns atordoados impetuosos e violentos, cujo capitão e guia era Pedro, um simpatizante da igreja, chegaram a essa mulher quando regressava à sua casa de algum lugar, arrancaram-na de sua carruagem; arrastaram -na para a igreja chamada Cesárea; deixaram-na totalmente nua; retalharam-lhe a pele e as carnes com caracóis afiados até que o alento deixasse seu corpo; levaram os pedaços a um lugar chamado Cinaron, e os queimaram até convertê-los em cinzas.”
Agora, alguém me diga: O que fizeram de bom ao mundo judeus, católicos e muçulmanos?