quarta-feira, 22 de julho de 2009

Antígona













Como estou de férias, tenho andado com muitas horas vagas. Decidi ler a Antígona no original. Adoro a audaciosa mocinha! E está sendo na base (para não estressar que não sou tão fanático assim) de uma estrofe por dia. Hoje li a primeira. Um projeto para um ano? Vou tentando fazer minha própria tradução. Não posso, é claro, dispensar as boas traduções. Por enquanto vou sendo luxuosamente auxiliado pelo Poeta Guilherme de Almeida, em uma tradução sua, diretamente do original sofocliano, que é linda e que encontrei na Estante Virtual em forma de libreto para uma peça encenada em 1952 no Teatro Brasileiro de Comédia, em São Paulo, com figuras como Ziembinski, Sérgio Cardoso, Paulo Autran e Cacilda Becker no papel de Antígona. Um libretinho, custou cinco reais e vocês não vão encontrar essa 'transcrição' - como a chamou o poeta - facilmente por aí. Tenho uma outra, do Millôr Fernandes, mas que é feita de alguma edição francesa. Não sei se ajuda esta última ou se atrapalha. De qualquer forma, serve para mostrar que as traduções têm suas diferenças e o melhor mesmo é ler a obra no original. Se não, vejamos a primeira estrofe:

com o Millôr:

Antígona

Ismênia, minha adorada irmã, existe ainda alguma desgraça que Zeus não nos tenha infligido por sermos filhas de Édipo? Tudo quando é doloroso e funesto, tudo quanto é infame e vergonhoso caiu sobre as nossas cabeças sem diminuir a fúria desse deus. Da estirpe orgulhosa e sofrida de Laio, resta só nós duas. E agora, essa proclamação que nosso comandante lançou a toda Tebas. Que sabes dela? Ouviste alguma coisa? Ou ignoras que os que amamos vão ser tratados como inimigos?

com Guilherme de Almeida:

Antígone

Ó meu próprio sangue, Ismene, irmã querida,
que outros males Zeus, da herança infanda de Édipo
há de nos mandar enquanto formos vivas?
Não existe dor, maldição, ignominia,
ou desonra, que eu não tenha visto ainda
figurar no rol dos teus e dos meus males.
E êsse nôvo edito agora proclamado
pelo chefe contra esta cidade inteira?
Não ouviste nada? ou ignoras que bem pode
a amigos ferir o mal feito a inimigos?

A tradução, provisória, e que faço a mais literal possível:

Antígona

Ó tu, pessoa de meu mesmo sangue, Ismene, irmã-zinha,
então, não supões que males mais, dos que vem de Édipo,
trará Zeus a ambas enquanto vivermos?
Pois não há tormenta, maldição, vergonha ou
desonra, espécie alguma de males que eu
não tenha visto desabar sobre as vidas tua e minha.
E agora, novamente, o que dizem do injurioso proclame
feito pelo comandante à toda a cidade?
Diga o que a esse respeito ouvistes !?
Ou ignoras que males feitos aos inimigos
são para os amigos que chegam ?

Como diz o Luciano, é mais para salvar o blog.

PS. Ah, o original:
Ἀντιγόνη
ὦ κοινὸν αὐτάδελφον Ἰσμήνης κάρα,
ἆρ᾽ οἶσθ᾽ ὅ τι Ζεὺς τῶν ἀπ᾽ Οἰδίπου κακῶν
ὁποῖον οὐχὶ νῷν ἔτι ζώσαιν τελεῖ;
οὐδὲν γὰρ οὔτ᾽ ἀλγεινὸν οὔτ᾽ ἄτης ἄτερ
οὔτ᾽ αἰσχρὸν οὔτ᾽ ἄτιμόν ἐσθ᾽, ὁποῖον οὐ 5
τῶν σῶν τε κἀμῶν οὐκ ὄπωπ᾽ ἐγὼ κακῶν.
καὶ νῦν τί τοῦτ᾽ αὖ φασι πανδήμῳ πόλει
κήρυγμα θεῖναι τὸν στρατηγὸν ἀρτίως;
ἔχεις τι κεἰσήκουσας; ἤ σε λανθάνει
πρὸς τοὺς φίλους στείχοντα τῶν ἐχθρῶν κακά;

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