Ontem tive um debate acalorado com alguns professores lá na escola. Um grupo de cinco ou seis se uniu para defender a tese de que o bolsa família era um programa para sustentar vagabundos. Utilizaram essa expressão mesmo: vagabundos. É impressionante como as pessoas conseguem permitir que a televisão e os jornal(ões)? substituam a sua experiência concreta por uma opinião alheia e reacionária como essa. Uma professora, com o discurso de que ela sempre foi pobre ( a família veio do vale do jequitinhonha) mas trabalhadora, e os que recebem os setenta ou oitenta reais do bolsa família são vagabundos, quando lhe disse que ela não tinha ascendência na senzala, e que portanto não podia fazer essa comparação, cinicamente me respondeu: _ Como você sabe que eu não tenho o pé na senzala?!
Ela é branca dos olhos verdes...
Essas pessoas odeiam o povo. São educadores, convivem com as crianças diariamente, mas não conseguem fazer uma reflexão honesta do porquê os meninos e as meninas são difíceis como são. Não conseguem entender que a responsabilidade por terem na mão a batata quente de educar pessoas advindas de uma condição social sub-humana é delas mesmas; ninguém as obrigou a serem educadores. Que o estado é ausente e que quem produz a política educacional é incompetente ou perverso eu não tenho dúvidas. Mas culpar o povo que nunca teve acesso aos direitos individuais e coletivos mais básicos, como à saúde e à educação, de ser vagabundo é reproduzir tolamente as bobagens que escutam na televisão de reacionários como o Arnaldo Jabour ou a Míriam Leitão.
Essa sim é uma das causas de recebermos maus salários. Há, entre nós, pessoas muito pequenas.
É por isso e por outras mumunhas mais que o meu grande sonho, agora na vida, é largar a educação. Talvez comprar uma terrinha, ir viver da agricultura e deixar para outros a ingrata tarefa de ser professor. O paradigma da educação no mundo está falido e não serei eu que vou mudá-lo. É um buraco negro de onde não sai mais nada.
Só mesmo uma revolução.
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