Democracia!
Junto a você, ao alcance da mão,
há agora uma garganta
que infla e canta com alegria.
Ma femme!
Pela ninhada nossa e além de nós,
pelos que já são daqui
e pelos que estão por vir,
eu, exultante de estar para eles pronto,
quero agora entoar mais fortes cantos
e mais soberbos que os jamais ouvidos
sobre a face da Terra.
Hei de entoar cânticos de paixão
para lhes dar passagem,
e hei de entoar cantos também a vocês,
réus à margem da lei,
pois eu os fito com olhos de parentesco
como a todos os outros.
Hei de entoar
o verdadeiro poema das riquezas,
a ganhar para o corpo e para a alma
tudo que adere e toca para a frente
e não é suprimido pela morte.
Hei de cantar o amor-próprio
e hei de mostrar que ele está na base de tudo,
hei de ser o cantor da personalidade.
Hei de mostrar macho e fêmea
como iguais um do outro,
e os órgãos genitais e os atos sexuais
que se concentrem em mim,
pois de vocês vou falar
em alto e bom som
para provar que vocês são
maravilhosos,
e hei de mostrar
que no presente não existe imperfeição
nem pode haver nenhuma no futuro,
e hei de mostrar
que coisa alguma pode acontecer
mais bonita que a morte,
e hei de tecer um fio
atravessando os meus poemas todos
e em uma coisa só
ligando o tempo e os acontecimentos,
pois que todas as coisas deste mundo
são perfeitos milagres
cada qual mais profundo.
Não vou fazer poemas referentes às partes,
mas vou fazer poemas, canções e pensamentos,
referentes ao todo,
e não hei de cantar com referência a um dia
mas com referência a todos os dias,
e não farei poema, nem parte de poema,
quie não seja de referência à alma,
porque, tendo já visto as coisas do universo,
acho que nada existe,
nem existe partícula de nada,
que não tenha uma referência à alma.
Walt Whitman, Folhas das folhas de Relva, Ediouro - 1983
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