domingo, 20 de setembro de 2009

Bilitis




















(Nêmesis - imagem original aqui)

Esse livro é todo maravilhoso. Foi escrito pelo poeta francês Pierre Louys lá pelos últimos anos do saudoso, do ponto de vista literário, século dezenove. São as canções de Bilitis, que seria uma poeta e contemporânea da também poeta (a maior segundo os próprios gregos) Sappho de Lesbos. Bilitis nasceu na Pamphylia, região da Anatólia, ou Ásia Menor, entre a Lícia e a Cilícia, espremida entre o Mediterrâneo e o Monte Taurus. Era filha de um grego e de uma fenícia. Ouçamos o próprio Louys:

"Levantava-se de manhã, ao cantar do galo, dirigia-se ao estábulo, levava os animais ao bebedouro e ocupava-se da ordenha. Durante o dia, caso chovesse, ficava no gineceu a fiar na roca sua lã. Se fazia bom tempo, corria pelos campos, divertindo-se com as companheiras em mil jogos, de que nos fala.
Bilitis cultivava uma ardente piedade com relação às ninfas. Destinavam-se à sua fonte os sacrifícios que quase diariamente oferecia. Não raro, lhes falava, mas parece que nunca chegou a vê-las, pois relata com veneração em suas memórias o caso de um velho que um dia as surpreendera.
O fim de sua existência bucólica foi entristecido por um amor sobre o qual pouco sabemos, embora dele fale longamente. Deixou de cantá-lo assim que se tornou infeliz. Dando à luz uma criança, que abandonou, saiu Bilitis, por misteriosas razões, da Pamphylia, para nunca mais rever o lugar em que nascera."

Alter-ego da poetisa Sappho, de quem difere pela obra completa que nos chegou, Bilitis, de fato, nunca existiu; o poeta a inventou.
Invenção maravilhosa.

No francês original:

3 -- PAROLES MATERNELLES
Ma mere me baigne dans l'obscurite, elle
m'habille au grand soleil et me coiffe dans
la lumiere; mais si je sors au clair de lune,
elle serre ma ceinture et fait un double
noeud.

Elle me dit: "Joue avec les vierges, danse
avec les petits enfants; ne regarde pas par
la fenetre; fuis la parole des jeunes hommes
et redoute le conseil des veuves.

Un soir, quelqu'un, comme pour toutes, te
viendra prendre sur le seuil au milieu d'un
grand cortege de tympanons sonores et de
flutes amoureuses.

Ce soir-la, quand tu t'en iras, Bilito, tu
me laisseras trois gourdes de fiel: une pour
le matin, une pour le midi, et la troisieme,
la plus amere, la troisieme pour les jours de
fete".

Na tradução de MariaJosé de Carvalho:

Palavras Maternas

Minha mãe banha-me no escuro, veste-me em pleno sol e penteia-me à luz da lâmpada. Mas, quando saio ao luar, ata-me o cinto com duplo nó.

E me recomenda: "Brinca com as donzelas, dança com as crianças. Não te ponhas à janela. Foge à palavra dos jovens e teme o conselho das viúvas.

Uma noite, à porta, em meio a grande cortejo de sonoros tímpanos e amorosas flautas, alguém te virá buscar.

Nessa noite, quando te fores, Bilitô, deixar-me-ás três frascos de fel: um para a manhã, outro para o meio-dia e o terceiro, o mais amargo, para os dias de festa".


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