Ele estava alimentando os cachorros. Passava das dez daquela noite um tanto fria de um quase verão. Misturava os restos do macarrão à ração para que os cães tivessem o seu prazer. Ouviu quando bateram no portão. Virou-se e dirigiu-se para lá e, como estava escuro, precisou chegar bem perto da porta e da fechadura para se certificar que o irmão, ao sair, havia passado a chave. Voltou à casa, já pensando que, quem quer que fosse àquela hora, lhe traria uma experiência diferente. A pessoa bateu novamente, e dessa vez com mais vigor, ao mesmo tempo que ele rodava a chave na fechadura, o que fez o estranho interromper as batidas. Ali, na porta da rua, por causa das muitas árvores, é muito escuro, pois não chega a luminosidade dos dois postes que se encontram um de cada lado da casa. O homem, pois era um homem, lhe disse: _Oh senhor, deixa eu te mostrar. E pegando de um saco grande que tinha ao lado, deitou-o ao chão e abriu-o para mostrar ao dono da casa o que tinha dentro. O dono da casa lhe disse então: _De que o senhor precisa?
_Eu preciso ir para casa, senhor, e também levar comida às crianças.
E abaixando-se novamente, abriu o saco e disse:
_Olha, curtidinha. Da outra vez eu não soquei, o senhor se lembra não?
Então ele se lembrou do homem. Havia lhe comprado um saco de esterco há uns meses atrás.
_É verdade, estou vendo, esse daí está bem soltinho. O senhor espere um instante.
Voltou à casa e pegou vinte reais.
_Pode colocar aqui, senhor. E deu-lhe o dinheiro.
Qual foi a alegria daquele homem, às dez horas da noite de um domingo, carregando aquele saco pesado de esterco às costas, de um lado para o outro, como um passarinho que ainda não havia ganhado o dia. Ah pobreza terrível!
_Oh senhor, me fez muito feliz! salvou o meu dia, senhor! - dizia senhor várias vezes - Oh como estou feliz!
E passava as mãos sobre o rosto como que para acreditar naquele dinheiro. Vinte reais.
O homem lhe disse que fazia qualquer trabalho, pintura, alvenaria, telhado, jardinagem, piso, tudo.
Ele não tinha um telefone de contato e o dono da casa pediu-lhe que, se pudesse, voltasse e deixasse na caixa de correio um contato. O telefone da irmã que havia esquecido. O homem agradeceu novamente. Estava visivelmente feliz.
Oh, como foi bom ver alguém feliz assim, ele pensou. Como é bom ver feliz um homem que o merece. Vinte reais: a passagem e o alimento.
Ele observou, por um instante ainda, o homem se afastar e fechou a porta.
As lágrimas imediatamente correram-lhe pela face. O homem pensou que ele fosse um anjo a salvá-lo naquela noite escura. Não sabia que o anjo era ele mesmo.
Pô que lindão. Aí a gente pergunta? quem ajudou quem né?
ResponderExcluirManero... (olha eu falando que nem jovem...)
É, Bete, é estranho se sentir bem ao ajudar os outros. Fica-nos uma sensação de um bom vazio.
ResponderExcluirJosaphat, não sei exatamente qual é a sua crença, e isso realmente não importa, mas venho te desejar um doce e abençoado Natal, na certeza de que as boas novas do evangelho falam de boa vontade, comunhão e amor. É isso que te desejo.
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