domingo, 30 de março de 2008
Anacreonte
Cantor de tudo que é o prazer, Anacreonte, de Samos, foi um poeta jônico que viveu entre os os séculos VI e V a.c.
Celebrava as coisas do vinho, do amor, das artes, Baco, Afrodite e as Musas. Muito cultuado pelos antigos gregos, nos chegou por meio de fragmentos, tais como este poema do qual fiz uma tradução:
ΕΙΣ ΕΑΥΤΟΝ
λèγουσιν αἱ γυναῖκες·
᾽Ανακρέων, γέρων ἐῖ·
Λαβὼν ἔσοπτρον, ἄθρει
Κόμας μὲν οὐκ ἔτ᾽οὔσας,
Ψιλὸν δὲ σου μέτωπον.
Ἐγὼ δὲ τὰς κόμας μέν,
Εἴτ᾽εἰσίν, εἴτ᾽ἀπῆλθον,
Οὐκ ὀῖδα. Τοῦτο δ᾽ὀῖδα·
Ὡς τῷ γὲροντι μᾶλλον
Πρέπει τὸ τερπνὰ παίζειν,
Ὅσῳ πέλας τὰ Μοίρας.
(Ανακρέων)
A si mesmo
Dizem as moças:
Anacreonte, és velho!
Tomando do espelho,
observa os cabelos
que já não existem
em tua fronte careca!
Eu nada sei dos cabelos,
se existem ou se se foram.
Sei disto:
Tanto quanto se avizinha
a velhice
mais convém divertir-se alegremente
com as coisas da morte.
(Anacreonte)
A Norma, de Bellini
Considerada uma das mais difíceis e complexas personagens da história da ópera, Norma de Bellini, é uma das belas composições musicais que conheço. Ópera cuja história transcorre na Gália romana, onde Norma é a gran-sacerdotisa druídica que se envolve amorosa e tragicamente com o governador romano. Maria Callas deve à sua interpretação desta personagem boa parte de sua ascensão musical. Não sou especialista em música, muito menos nos clássicos, mas sei do que gosto. E esta ária, a 'casta diva' é uma das coisas mais lindas que já ouvi. A melhor gravação que encontrei, de Callas ao vivo, está o arquivo com defeito, então escolhi uma gravação da mesma Maria Callas, em estúdio, sem imagem em movimento.
Casta diva
Música clássica
Sempre gostei de música clássica. Apesar das dificuldades que tivemos em nossa formação (eu e meus dois irmãos) devido ao relacionamento conturbado entre nossos pais, sempre houve uma boa dose de cultura lá em casa. De boa cultura, que se diga. E essa presença se manifestou quando eu ainda era bem criança, lá nos idos de 60, sentado no colo de meu Avô, de quem herdei o nome. Ele, apesar de nordestino pobre que era, sempre amou a música clássica. Minha mãe que o diga, recebeu o nome de uma das óperas de Bellini. E ficava ouvindo, no colo de Vovô, aqueles discos bolachões que ele os tinha vários. Assim, a despeito de uma vida material um tanto pobre, havia (e ainda há, graças a Deus) uma riqueza espiritual na forma de boa música e boa literatura. E não somente clássicos, tinha também a MPB, o Jazz americano e até a música francesa na voz de Piaff ou em valsas tocadas no acordeon, entre outras. E ainda havia as histórias contadas e cantadas por Vovó que nunca as esqueço: A menina dos brincos de ouro, O homem do surrão, A história da figueira ou o Tungujungo. Sem falar que Vovó ainda tocava o violão.
Então, foi uma boa educação a minha e sou eternamente grato a Vovô e a Vovó, que já estão há muito no céu, e a Mamãe com quem até hoje posso apreciar a boa arte. Por tudo isto, vou começar a fazer uns posts sobre a música clássica com links para vídeos, para baixar discos ou ler matérias e curiosidades.
E para começar vamos com Chopin. São três vídeos do youtube com intérpretes diferentes. Há uma variedade grande de opções, incluindo muitos artistas chineses (e isto é até um assunto interessante para se comentar) e escolhi o estudo op.10 nº 3, "tristesse", com um pianista de quem não consigo maiores informações, Damien Michel, mas achei bonita interpretação; o Nocturne #20 in C Sharp Minor com esta garotinha de apenas 9 anos, Hahnna Hua, impressionante e a Polonaise N°6 l'heroique com a Martha Argerich, pianista argentina consagrada. Neste último, observar o mergulho interior da pianista, na interpretação, que lhe aparece no semblante.
Chopin 1 Chopin 2 Chopin 3
sexta-feira, 28 de março de 2008
Governo Lula e o povo
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Aí está o porque da oposição anti-patriota e do PIG estarem cada vez mais desesperados. A aprovação do Presidente Lula segue aumentando, 73%. Acredito que deve ser uma das maiores aprovações de um governo no mundo. É impressionante que, mesmo sendo bombardeado diariamente por acusações de grande parte da imprensa (ou da maior parte pode-se dizer), a maioria infundada, e sofrendo todo o tipo de sabotagens e armações da mídia e de uma boa parte do senado, o governo de Lula continua sendo bem recebido pelo povo. E não é só dos miseráveis nordestinos (como insiste em dizer os mesmos inimigos do povo); 62% dos que tem curso superior e 60% dos que moram nas regiões sul e sudeste aprovam o governo Lula. A pesquisa completa se pode ver aqui. No entanto, é preciso estar atento aos rumos da economia, à crise internacional e ao comportamento do Banco Central, que parece ser, dentro do governo, um dos pontos fracos. Como não entendo quase nada de análises econômicas, gosto de acompanhar os comentários do Nassif, que hoje em seu blog, fala do comportamento da mídia (também no cidadania do Eduardo Guimarães) , dos rumos da economia internacional e dos problemas do Banco Central.
quarta-feira, 26 de março de 2008
Memórias de um médico 4 - A Condessa de Charny ou Andréia de Taverney
Gilberto e Andréia em ilustração de uma edição antiga
Há pouco ou quase nada sobre Andréia de Taverney pesquisando na internet. Certamente é uma das personagens fictícias do romance, ou quanto muito, inspirada em pessoa real. O que acho bastante possível. Apesar da grande angústia em que me encontro tentando decifrar a personagem, receio não encontrar a quem me possa socorrer. Embora não tenha perdido as esperanças.
“Memórias de um médico” compreende cinco livros, conforme já o mencionei nos posts anteriores, sendo que os quatro primeiros foram escritos depois do quinto e último, que por sua vez, tem mais de uma versão, ou ao menos, tem histórias irmãs, como se pode dizer, que tratam do mesmo tema, que consiste, em parte, na narração sobre o período da revolução conhecido como “o terror”.
No livro, não há, propriamente, um protagonista, ou personagem central. Há os vários personagens que permeiam toda a trama que compreende 24 anos da história de França em seu mais dramático momento: os anos imediatamente anteriores e posteriores à queda da Bastilha, em 1789. Os únicos, destes personagens que aparecem em todos os livros são Maria Antonieta e Cagliostro. Gilberto, desaparece no “Colar da Rainha”, retornando, em seguida, para não mais abandonar a história; Felipe de Taverney reaparece, temporariamente, em “O Colar da Rainha”, para só retornar no quinto livro, intitulando-o: “O Cavalheiro da Casa Vermelha”. Nicola, que teria sumido no “Ângelo Pitou”, ressurge na “Condessa de Charny” mas não retorna mais. Luis XVI, apesar de rei, tinha importância secundária. Marat? em nada nos agrada tal criatura. Andréia, sobre quem este último tem funesta influência, a de se se levar pela superfície da trama, nos escapa ao fim da novela que leva seu nome: “A Condessa de Charny”. Digo isto porque desconfio da personagem de Andréia. Vou me explicar.
Toda a desconfiança vem, basicamente, do último dos livros: “O cavaleiro da casa vermelha”, que como já mencionei, é o próprio Felipe de Taverney, irmão de Andréia. Esta morre no final do quarto livro que leva seu nome: “A condessa de Charny”. O Conde de Charny, seu esposo, morrendo na defesa da família real, e mais especificamente, da rainha, como seus outros dois irmãos mais novos, tira de Andréia o gosto de viver. E, um mês após a morte do Conde, ela se suicida se entregando aos assassinos nos massacres de setembro. Uma coisa que chama a atenção, mas que pode ser fantasia minha, é que ela se mata por amor de um homem que, por sua vez, se mata por lealdade à rainha. Mas ficou a pergunta: Ele se sacrificou por lealdade ou por amor, já que tinha sido amante de Maria Antonieta? Ele ainda a amava? O amor por Andréia, descoberto depois de seis anos de cegueira, como ele mesmo diz, não podia ser apenas uma forma de tentar se afastar da influência da rainha? Não sei responder. Isto tudo pode ser uma bobagem minha. Mas...Por outro lado, se for verdade esta hipótese, que loucura o amor/morte de Andréia por alguém que morreu por outra...
Pois bem, seguindo esta hipótese, de Charny ter morrido por amor da rainha e Andréia tê-lo percebido, outro poderia ser o seu destino. Dumas pode ter disfarçado a história pela semelhança com algum personagem real em virtude de seus descendentes. Sabemos que ele teria agido assim em outras ocasiões.
Então vejamos. No quinto livro já mencionamos que o personagem que o nomeia é Felipe, irmão de Andréia. A história começa com uma mulher misteriosa, que vamos depois conhecer por Geneviéve. Não há o que me tire da cabeça que esta personagem possa ser a mesma Andréia. Há uma semelhança entre suas naturezas que passa por uma certa dignidade de nobres decadentes. Embora Andréia seja descrita como uma pessoa fria, como uma estátua (Dumas por diversas vezes no-la descreve assim), sabemos que era um comportamento forçado. Há nesta frieza de Andréia algo mais antigo que a experiência de estupro sofrida nas mãos de Gilberto. Algo que se remete à sua infância. E não sei ainda dizer o porque acho isso. Geneviéve é mais meiga. Mas não muito mais. Também tinha um domínio forte sobre suas emoções. Outra coisa é sua idade, Geneviéve tinha vinte e poucos anos. Porém Felipe é descrito como ora aparentando vinte anos, um mancebo, ora um senhor de quarenta anos. Que seria sua idade verdadeira. Andréia também estaria na casa dos quarenta. Mas não nos esqueçamos que são irmãos. Geneviéve, também, freqüentemente se refere a Felipe como “meu amigo, irmão e protetor”. Assim Andréia também o designava. Mas se Geneviéve era Andréia, quem era Maurice? Aí é que me complico. Não sei.
Na verdade, o que me ficou foi uma sensação de que Alexandre Dumas procurou, neste livro, nos transmitir mensagens que não estão explícitas. Não me pergunte quais são meus amigos e amigas, pois não o saberei responder.
Os heróis que sobrevivem à tragédia são aqueles do povo. A nobreza toda é morta ou desaparece. Gilberto e Billot sobrevivem saindo da França antes do Terror. Pitou e Catarina são os únicos a serem felizes. Pitou ainda mais que ela. Para mim, representam a ascensão do povo, ou, mais especificamente, de uma burguesia pós-revolução. À nobreza o que resta é uma descendência mestiça. Mas uma mestiçagem que custou caro. Isidoro, filho de Catarina e o Visconde de Charny, irmão do meio do Conde, custa a Billot o ódio que vai ter influência significativa, por exemplo, na captura da família real quando da tentativa de fuga para a Bélgica. Sebastião, cria de uma violação.
Talvez seja mesmo esta a idéia final que Dumas nos transmite. A de uma França mestiça de aristocracia e povo. Mestiçagem fruto de uma grande violência, de uma violação. Talvez uma característica de todas as mestiçagens.
Aqui encerro estas postagens sobre este livro que gostei tanto e do qual sempre me recordarei. Talvez um dia o leia de novo, como gosto de fazer com os livros que me custam caro. Talvez aí, eu possa ter interlocutores e me sinta menos sozinho.
É isso.
Mais sobre o Galo
atlético x flamengo+wright
terça-feira, 25 de março de 2008
Centenário
segunda-feira, 24 de março de 2008
surgimento da (agri)cultura
Tenho trabalhado, lá na escola onde leciono para jovens e adultos, sobre o conceito de cultura. Estamos investigando as origens do patriarcalismo com a descoberta da participação masculina na procriação, o declínio da deusa, a relação sêmen/semeadura, o desenvolvimento da cerâmica, das habitações, a domesticação de certos animais, o sedentarismo e o surgimento de uma civilização baseada na figura do pai e, é claro, logo em seguida, a criação dos deuses e, por fim, de Deus. Masculino claro. Então estou passando o filme "A guerra do fogo", direção do francês Jean-Jacques Annaud. Os alunos estão pirando. O filme é realmente muito bom. Desde os figurinos, à linguagem rudimentar, aos gestos. Era uma época de profundo silêncio, revelado logo na primeira cena do rapaz que vigia e observa a noite e a solidão. Quanta coisa mudou e esta humanidade, que não desiste de saber quem é, continua. Quantos serão, hoje, os que escutam o silêncio, sem terem na mente os tantos pensamentos, imagens/palavras? Talvez que seja na mesma proporção que os havia antes.
Assisti, hoje, agora a noite, ao filme "10000 a.c.". Fraco, não vai servir para uma aula.
Ps. Ainda estou preparando o texto sobre A condessa de Charny. Sei que, um dia, haverá interessados.
sábado, 22 de março de 2008
sobre fraternidade e internet
Muito interessante este post no blog do Luis Nassif. Fala justamente deste espaço, que pode ser fraterno, de debates, conhecimentos e expansão. Discute a necessidade de moderação no espaço bloguístico e internáutico devido às páginas de comentários e sua apropiação por críticos radicais. Ainda bem que, aqui, neste little big blog, ainda não há disso.
sexta-feira, 21 de março de 2008
Memórias de um médico 3 - A princesa de Lamballe
Estou apenas ajudando a tampar um buraco. Há muito pouca coisa sobre ele na internet ou em qualquer lugar. Das pessoas que conheço, só minha mãe o leu, e ainda assim há mais de 60 anos. É preciso que se contribua com sua divulgação, aliás que é para isto que serve este blog e outros: fazer com que circulem as histórias. Principalmente, no meu caso, as que poucos conhecem.
A princesa de Lamballe, ou Marie Thérèse Louise de Savoy-Carignan, foi uma personagem da revolução francesa. Sua participação, tanto na História quanto na trama do livro, foi pequena, limita-se quase à sua morte. Mas que morte! Digamos que, se Maria Antonieta, a condessa DuBarry, a princesa Elizabete ou Madame Roland morreram por interesses políticos, racionais; Lamballe foi morta em circunstâncias caóticas, fruto daquele ódio insano que irrompe como um vagalhão dos corações das turbas sedentas de sangue, alucinadas. Mas, por mais que estivesse desesperado o povo e sequioso de vingança por tão longos séculos de exploração e miséria, não era ele capaz de tão vil baixeza.
Conta-se que, durante aqueles primeiros dias de setembro de 1792, que tão caro custaram à aristocracia, não foram mais de cento e cinquenta os facínoras e desalmados que cometeram os bárbaros crimes que horrorizaram a europa e mancharam a infante bandeira de liberdade e igualdade que trazia a revolução. Sinistras pessoas aquelas, saídas de algum buraco da terra, de algum portal que direto do inferno vinha. Somente os mestres e adeptos poderiam explicá-los.
Sobre Lamballe, sua mais triste vítima, não posso dizer mais que este simples poema, que só tem a pretensão de fazer uma homenagem a tão desgraçada mulher. Há tanta poesia sobre Andrômaca, Antígona ou Inês de Castro, mas sobre Marie Thérèse Louise, nada achei. Talvez que a poesia seja o muito ou pouco que se diga sobre estas mortes emblemáticas, que não são mais que o fruto do desequilíbrio masculino/feminino. Entre as corjas de assassinos que circulavam naqueles dias por Paris, nada incomadava e despertava a fúria do que qualquer coisa que fosse mais: Riqueza, saúde, sabedoria ou beleza. Todas estas mulheres morreram por simplesmente amar. Isto, a energia masculina desfigurada por milênios de patriarcalismo não pode perdoar. Martirizar vem do grego μαρτυρεω (leia-se marturêo) que quer dizer 'dar o testemunho'. Lamballe, entre muitas mártires, conhecidas e desconhecidas, testemunhou.
Singelo poema à Lamballe
Tu, senhora,
que só sabias
de belezas e de amores.
De amor fraterno,
minha amiga de rainhas,
de princesas.
Por amor de uma
maior do que tu,
voltastes.
Sabendo, talvez,
do sacrifício,
do martírio?
Tu, que era só meiguice,
pureza e encanto!?
Oh digna princesa,
que espírito profundo
abrigavas?
Tu, que por
três semanas
calculastes o fim,
sonhastes que haverias
de aplacar o ódio
da multidão,
sem que em ti
houvesse forças para isto?
Tu, que nem Cassandra,
Efigênia ou Polixena
podem justificar...
Diferente delas,
violada fostes e
destes o corpo
à desonra.
Mas, que esta tua linda
imagem de criança,
nos fique, ainda
mais do que a da morte,
na lembrança.
quinta-feira, 20 de março de 2008
memórias de um médico 2 - José Bálsamo
Saint Germain e Cagliostro
Como havia dito, preciso escrever algo sobre este fabuloso livro. Há, em toda a trama, um personagem enigmático: Cagliostro ou José Bálsamo. Está entre os personagens históricos, isto é, existiu de fato. Andei pesquisando sobre ele na internet. Desde já, sabia que o que iria encontrar era apenas a ponta do iceberg. Mago, iniciado, charlatão, dizia que tinha mais de 3000 anos de idade. No livro, este personagem envolve-se com todos os outros principais: Maria Antonieta, Gilberto, Andréia, Du Barry, Pitou e Billot, Rohan e a Condessa de Lamotte e, com estes, trama o famoso caso do colar, que tão caro custou à Rainha e à realeza. Dumas escreveu um romance histórico. Alguns personagens são inventados (talvez inspirados em pessoas reais), outros, como Cagliostro, são verdadeiro, como se já disse. No entanto, Dumas recria a história, construindo acontecimentos que, certamente, não ocorreram tal qual nos conta.
O caso de Cagliostro faz parte destes acontecimentos. É um personagem envolto em brumas, mistérios. É fato histórico que participou da intriga do colar, mas a maneira como Dumas nos conta como isto se deu é que é difícil de saber se é verdade. Mas não importa. O que me intriga são dois relacionamentos fundamentais na vida do mago: Lorenza Feliciana e o Conde de Saint Germain. Lorenza foi uma jovem romana que tomou como esposa em 1768. É bem provável que, nesta época, estive ele envolvido mesmo com os bandidos. Em muitos sites que visitei diz-se desse seu envolvimento com salteadores. No livro de Dumas este período coincide com o encontro com Lorenza. É quase certo, também, que influenciada por membros da inquisição italiana e movida por suas próprias crenças pessoais, tenha Lorenza rompido relações com Cagliostro que, então, ainda era José Bálsamo, em italiano, Giuseppe Balsamo. No livro, nunca teria havido amor da parte de Lorenza, a não ser quando esta se encontrava sob efeito do transe que o marido lhe provocava. Na história (vou sempre utilizar este termo, a partir de agora, para me referir ao material que encontrei na internet e que procurei peneirar na medida do possível) há versões diferentes quanto ao relacionamento do casal. Uns dizem que partilhavam uma relação de interesses, onde Lorenza era utilizada por Bálsamo para atrair homens de poder e riqueza, uma espécie de esposa/prostituta. Diz-se também que foi ela quem lhe sugeriu o título de Conde de Cagliostro e que o casal se devia lançar em empreendimentos mais ousados e ambiciosos do que os pequenos crimes que estavam acostumados a cometer. Inclusive assassinatos. No livro, nem de longe Lorenza seria uma tratante ou criminosa. Em quase todas as versões que encontrei, Lorenza teria morrido por volta de 1774. Coincide com a trama (vou utilizar este termo para o livro), embora a história não esclareça em quais circunstância. Na trama, Lorenza é morta por Althotas. Na história, este personagem teria morrido em Malta, anos antes. Uns falam, até, que teria sido morto por Bálsamo. O mistério em torno de Lorenza é grande. Na trama, possui duas caras. Uma, a da vigília, que odeia Bálsamo; a outra, do sonho, do transe em que ele a coloca, que o ama de adoração. Esta dualidade o intriga e enlouquece. Este amor que a donzela lhe nutre é que faz com que Bálsamo desista de utilizá-la como oráculo e a tome efetivamente como mulher. O oráculo tinha que ser virgem.
Na história, para complicar, aparece a personagem de Serafina Feliciana. Quem será esta? Uns dizem que era a irmã mais nova de Lorenza. Outros dizem que era a própria Lorenza, que, juntamente com a mudança de nome de Bálsamo para Cagliostro, mudou também de nome. Seriam as duas caras de Lorenza, que Dumas nos oferece, Lorenza e Serafina? Teria Lorenza sido ressuscitada por Bálsamo, como parecia fazer a si próprio? Teria ela, Lorenza, sido mesmo encarcerada em um convento na itália? Seria ela a condessa de LaMotte ou a menina Nicola, que se parecia com a rainha e que, tendo sido oferecida ao Cardeal de Rohan como se esta fosse, foi parte importante na intriga do colar? Mistérios meus amigos e minhas amigas...
Ainda para complicar um pouco mais há a figura de Saint Germain. Há muito sobre ele na internet. Personagem ainda mais misterioso que Cagliostro que parece ter sido seu discípulo. Seria Saint Germain inúmeras figuras importantes da História, como José, pai de Jesus, Merlin, Cristóvão Colombo, Shakespeare e Francis Bacon. É um adepto ou iluminado. Bodhisatwa da raça, sucessor de Jeshua, o cristo. Há quem diga que nasceu em Portugal. Talvez seja alguém que tenha muitos nascimentos. E que tenha consciência deles. Mas não quero me deter muito sobre Saint Germain ou Adamus. No livro, na trama, ele não aparece. Ou apenas uma vez em palavras de Cagliostro: _Eu e o Conde de Saint Germain somos os únicos que não morremos! num diálogo com Gilberto. Diz-se que, chegando à França, à época da Revolução, vinha saber "que intrigas urdia contra o trono o discípulo dos infernos, Cagliostro" Saint Germain era amigo da corte. Tentou convencer a rainha e outras cortesãs famosas como a Princesa de Lamballe, dos perigos que estavam correndo, que os tempos estavam mudando. Não foi ouvido. Fala-se também que tinha Saint Germain (ou ainda tem) uma atração irresistível para as mulheres e que tinha uma esposa chamada Lorenza. Isto mesmo, Lorenza. Percebem a confusão queridas leitoras? Falam de um encontro de Cagliostro e Serafina com Saint Germain e Lorenza em França, Londres ou Portugal. Seriam os dois casais dicotômicos? Saint Germain o bem e Cagliostro a contraparte do mal? Na trama, Bálsamo era bom e mau. Não me parece que odiasse a realeza. Mais amava a era de liberdade que se aproximava e que ajudou a criar. Foi a um preço alto criada a era da liberdade e ainda não está de todo resolvida. A revolução Francesa, linha mestra da trama, trouxe o ideal de liberdade, os movimentos socialistas do século XIX o de igualdade. E a fraternidade? Esta talvez esteja se manifestando agora, como em espaços como este. Nos fóruns, nos blogs, espaços virtuais de convivência unindo os povos. Cagliostro, Saint Germain, Lorenza, Serafina são mistérios que talvez nunca decifremos. No entanto, há mistérios maiores. Que se dirá dos bilhões e bilhões de seres humanos que nascem e morrem neste mundo sem que ninguém saiba ou se lembre? Houve um mestre, que também poucos conhecem, o Professor Henrique José, que dizia algo assim: A história do mundo, com o seu infindável mar de lágrimas, muito me entristece; mas o que mais me entristece e subjuga é aquele mistério que jamais conhecerei.
Outro dia falarei sobre Andréia de Taverney, por quem, também eu, me apaixonei.
Aniversário
terça-feira, 18 de março de 2008
My lai
As guerras fazem parte da história do gênero humano. Absurdas, bestiais, sanguinárias e outros adjetivos semelhantes mais eu poderia citar. Umas foram quiçá necessárias. Quero dizer, nunca fomos tão esclarecidos de nossa humanidade como o somos hoje. Nunca tivemos, no mundo, tantos contra as violências e a favor da paz. Pagamos, no entanto, um preço alto. Houve vezes que, esgotadas todas as possibilidades de diálogo, tivemos de nos bater. Precisávamos nos defender e à nossas famílias e ao nosso mundo, àquilo em que acreditávamos. Veio um mestre do amor e nos ensinou a oferecer a outra face. Este mestre mudou o mundo, todos o sabem. Hoje, o sangue não nos entusiasma mais. Pelo menos não a mim. Mas o que teria sido do mundo se não fosse a batalha de salamina ou a de estalingrado? A liberdade, como dizia Cecília Meireles, é palavra que ninguém explica mas todos entendem. Me atrevo, com todo o respeito à grande poeta, a corrigi-la: ninguém entende a liberdade, mas todos a sentem. É um sentimento que não se explica, como quase todos aliás. Há 40 anos atrás, em uma guerra, esta sim sem sentido, injusta e covarde. Há 40 anos, soldados norte-americanos, em uma pequena aldeia vietnamita, realizaram aquilo que só pode ser próprio de um ser humano, pois de tal vileza são incapazes as bestas, os animais. Então, foram mortas mais de 500 pessoas, entre velhos, mulheres e crianças. Executadas uma a uma, sem piedade, sem razão, movidos por aquele tipo de ódio que só humanos são capazes. Isto sim é o absurdo de todas as guerras. Os mongóis de Gengis-kan fizeram o mesmo. Mas não se pode comparar o barbarismo destes com soldados da, já então, maior potência do planeta. Estes soldados (podemos chamá-los soldados?) não tinham, nem de longe, este direito. Então, enquanto não abandonamos por de vez as guerras e a violência irracional, vamos celebrar. Vamos celebrar esta barbárie que completou anteontem 40 anos. Um dia, ainda vamos celebrar outra coisa bem diferente: uma verdadeira fraternidade entre os povos.
ps. Se alguém se interessar por maiores informações:
aqui e
aqui
segunda-feira, 17 de março de 2008
Memórias de um médico
Há pouco mais de vinte anos me foi apresentado um livro. Na verdade eram cinco livros, ou quatro. Talvez mais, ou menos. Este livro se chamava "Memórias de um médico". De quem? Do príncipe dos romancistas, como era chamado Alexandre Dumas, o pai. Sabia que era um livro grande, composto de vários volumes. Na verdade são apenas quatro, a saber: José Bálsamo, O colar da rainha, Ângelo Pitou e A condessa de Charny. Este último foi dividido, por sua vez, em outros dois: A condessa de charny e O cavaleiro da casa vermelha. Não pude lê-lo na ocasião, pois me vi obrigado a abandonar a sociedade, na qual, em sua biblioteca, estava a atrativa epopéia. Pois bem, no começo deste ano de 2008, envolvido em histórias de reis e princesas, me lembrei dos já quase esquecidos livros. Resolvi encontrá-los. Em português, descobri impressas duas edições na biblioteca pública. Uma, composta de vários volumes, onde os quatro livros são desmembrados de acordo com o tamanho de cada um, para que a coleção fosse composta de volumes mais ou menos do mesmo tamanho. Capa dura, folhas amareladas pelo tempo. Infelizmente, como acontece com vários clássicos do acervo da bilbioteca, faltavam dois ou três volumes. Portanto, descartei. A outra edição, que era uma coleção completa das obras do escritor francês, estava completa. Capa dura, de cor vermelha, mais de dez volumes. Cada um com mil e oitocentas páginas. As folhas são aquelas que parecem de seda, como das bíblias. Era uma bíblia mesmo. A caixa das letras, algo como 4 ou 5. Portanto, bem menor do que esta em que vos escrevo, caro leitor ou leitora. O livro a que estamos nos referindo ocupa os volumes V, VI e metade do VII. Gastei coisa de um mês na empreitada. Amigos, coisa louca é a literatura. Quando gosto de um livro, não consigo parar de lê-lo. Como ando com tempo livre, trabalhando só um horário, isto não foi problema. Mas teve momentos em que abusei. Há uns dias atrás, me vi varando a noite na leitura e só parei quando vi a aurora de róseos dedos entrando pelas cortinas entreabertas de minha janela. Estão vendo como estou poético? hehehe. Adormeci de cansaço físico, mental e emocional.
Terminei a leitura hoje. Me sinto vazio como quando me acontece uma perda de amor. Assim é sempre quando acabo um livro que amo. Sim, porque, como disse, é como um amor, quando se acaba, se sofre. Não vou falar sobre este livro magistral hoje não. Preciso que se me dê um tempo para digeri-lo. Mas prometo que, para estes dias, farei uma postagem tentando explicar o porquê deste romance ter sido tão importante para mim. As coisas terríveis não se esquecem.
sábado, 8 de março de 2008
2008
Mas estou decidido a dar prosseguimento a ele. Portanto estou escrevendo estas parcas linhas.
Hoje é só para ressuscitá-lo. Depois continuarei a dar prosseguimento aos posts.
Até mais!